Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
Falhado o assalto ao quartel de Beja, Humberto Delgado
regressa ao Brasil, onde, sob o patrocínio da maçonaria do Rio de Janeiro, foi
tentada, infrutiferamente, a reconciliação com Henrique Galvão. Delgado era
Grão-Mestre do Grande Oriente Português do Exílio. Galvão não era maçon.
Compreende-se assim melhor a “simpatia” dos socialistas portugueses - onde
prolifera a maçonaria - por Humberto Delgado, e o ostracismo a que foi votado
Henrique Galvão pelos “democratas” de abril.
Delgado, não só
recusaria a reconciliação com Galvão como o procuraria desacreditá-lo junto da
comunidade portuguesa - chamando-lhe fiteiro, traidor, ladrão e gangster -chegando mesmo a pedir a sua
expulsão do Brasil. Galvão mover-lhe-ia um processo que viria a ser arquivado pela
justiça brasileira, sem julgamento.
Após a saída de
Delgado para o norte de África, Galvão, numa carta à sua mulher, Maria de
Lurdes, referir-se-lhe-ia nestes termos:
“-….Esse está liquidado
de vez e receio bem que venha a acabar muito mal. Deixa atrás de si o
espetáculo de um estado patológico de indignidade política e moral que só se
explica com casos de loucura.”
Quando, 14 meses depois teve conhecimento de que os corpos de
Humberto Delgado e da sua amante brasileira Arajyr
Campos tinham sido encontrados em Vila
Nueva D’el Fresno, publicou no ”O Estado de São Paulo”:
“Foram homens do Partido Comunista Português,
companheiros ou ex-companheiros do general Delgado, quem planeou e fez executar
o assassínio….Para bons comunistas, o facto de o fazerem desaparecer seria,
como para qualquer totalitário, a menor das coisas.”
Diria ainda à
mulher:
“Estávamos mal, irremediavelmente mal, mas
isso nada tem a ver com o crime, que foi odioso. Os seus erros de louco
pagou-os muito caros.”
Dececionado com a passividade do povo
português perante ditadura salazarista e com o fracasso das suas próprias ações
revolucionárias, farto de samba e carnaval, Henrique Galvão morreu a 25 de
Julho de 1970 - cerca de 32 dias antes de António de Oliveira Salazar -,
sozinho, meio louco, na sequência de uma doença degenerativa cerebral que o
conduzira a internamento hospitalar, a expensas do jornal brasileiro onde
trabalhara, “O Estado de São Paulo” (Salazar ofereceu-se para o pagamento das
despesas mas recusou o seu regresso).
Mário Soares
visitara-o na clínica, em 1970, tendo-lhe oferecido um cigarro e dando-lhe
algum alento quanto às possibilidades de recuperação clínica e de regresso a
Portugal. Foi ainda Mário Soares, já Presidente da República, que, a título
póstumo, o agraciou, a 7 de Novembro de 1991, com a Grã-Cruz da Ordem da
Liberdade. Tinha já sido condecorado pelo Estado Novo, em 1934, como Grande
Oficial da Ordem de Cristo. Jaz no cemitério dos Prazeres, na mesma rua do
jazigo de Nascimento Costa.
Peniche, 17 de Fevereiro de 2019
AntónioBarreto
Foto do paquete Império; um dos "meus" navios.
Peniche, 17 de Fevereiro de 2019
AntónioBarreto
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