Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
É neste contexto que Delgado extingue o cargo de
secretário-geral do MNI até então exercido por Galvão. Por sua vez, este, cria
o movimento de democratas anticomunistas, a Frente Antitotalitária dos Portugueses
Livres Exilados, em nome da qual lança um ultimato a Américo Tomás para, em 30
dias, abdicar do cargo em favor de uma junta governativa com a função de
organizar a transição para a democracia.
Ambos planeavam ações armadas contra Portugal, mas apesar dos esforços de Galvão, não foi possível conciliá-las. Delgado queria iniciar a revolta sublevando uma unidade militar com infiltrados a que seria dada sequência pelo levantamento popular previamente fomentado. Viria a ser a fracassada revolta do quartel de Beja, em Janeiro de 1962. Galvão queria tomar o posto militar de Santa Luzia em Viana do Castelo onde acreditava resistir 48 horas com uma pequena força dando tempo ao levantamento popular - na sequência do lançamento de panfletos a partir de um avião sequestrado para o efeito. A sublevação do quartel não foi possível por falta de capacidade de recrutamento de Manuel Serra, Raúl Marques e José Paulo Graça. Não havia voluntários.
Peniche, 11 de Fevereiro de 2019
António Barreto
Nos meses que se
seguiram ao epílogo do sequestro do navio Santa Maria, Delgado e Galvão deram
que fazer ao governo de Salazar. E de que maneira! Instalou-se no país a
convicção da iminência de operações armadas em território nacional. Os rumores
corriam como rastilho. O pânico instalava-se entre a população; por esta altura
verificou-se a invasão da Índia Portuguesa, as incursões terroristas da UPA em
Angola, os Estados Unidos - do democrata John
Kennedy - mudavam de posição, adotando o princípio da autodeterminação dos
povos, a ONU acolhia o mesmo princípio, à revelia do Direito Internacional
vigente, descurando a validação da representatividade dos “movimentos de
libertação”.
Perante este quadro,
concorde-se ou não com as políticas de Salazar, a capacidade deste resistir a
toda esta turbulência - sabotagem, subversão, guerra colonial em três frentes e
diplomacia internacional - durante cerca de 44 anos , foi invulgar. Ainda
assim, de 1950 a 1974, Portugal foi um dos países do mundo cujos indicadores
sociais mais progrediram. Foram os anos de ouro da economia portuguesa. Sem
ajudas externas. Nem Delgado, nem Galvão, nem Cunhal, nem Soares conseguiram
derrubar Salazar, nem Cuba, nem a URSS, nem os EUA, nem os países nórdicos, nem
Marrocos, nem a Argélia. Foi um ditador, sim, mas não fascista. Se o tivesse
sido, muitos dos seus opositores não teriam sobrevivido à prisão- Henrique
Galvão, Álvaro Cunhal, Mário Soares, Palma Inácio, Manuel Serra, Amândio Silva
e muitos outros.
A incompatibilidade entre Delgado e Galvão era
irreversível, e apesar das tentativas de conciliação dos respetivos correligionários,
atinge o auge em Outubro de 1961, quando, numa conferência de imprensa em
Casablanca, Humberto Delgado acusa Henrique Galvão de traição, denunciando o
hipotético golpe que este estaria a preparar contra Portugal, em Casablanca.
Ambos planeavam ações armadas contra Portugal, mas apesar dos esforços de Galvão, não foi possível conciliá-las. Delgado queria iniciar a revolta sublevando uma unidade militar com infiltrados a que seria dada sequência pelo levantamento popular previamente fomentado. Viria a ser a fracassada revolta do quartel de Beja, em Janeiro de 1962. Galvão queria tomar o posto militar de Santa Luzia em Viana do Castelo onde acreditava resistir 48 horas com uma pequena força dando tempo ao levantamento popular - na sequência do lançamento de panfletos a partir de um avião sequestrado para o efeito. A sublevação do quartel não foi possível por falta de capacidade de recrutamento de Manuel Serra, Raúl Marques e José Paulo Graça. Não havia voluntários.
O mesmo se verificara na Venezuela quando Galvão quis lançar
um atentado contra Salazar.
Foto; Jânio Quadros (Presidente do Brasil)Peniche, 11 de Fevereiro de 2019
António Barreto
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