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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Humberto Delgado, O Mártir Socialista (notas, P8)


Humberto Delgado, O Mártir Socialista

(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
 
  
É neste contexto que Delgado extingue o cargo de secretário-geral do MNI até então exercido por Galvão. Por sua vez, este, cria o movimento de democratas anticomunistas, a Frente Antitotalitária dos Portugueses Livres Exilados, em nome da qual lança um ultimato a Américo Tomás para, em 30 dias, abdicar do cargo em favor de uma junta governativa com a função de organizar a transição para a democracia.


   Nos meses que se seguiram ao epílogo do sequestro do navio Santa Maria, Delgado e Galvão deram que fazer ao governo de Salazar. E de que maneira! Instalou-se no país a convicção da iminência de operações armadas em território nacional. Os rumores corriam como rastilho. O pânico instalava-se entre a população; por esta altura verificou-se a invasão da Índia Portuguesa, as incursões terroristas da UPA em Angola, os Estados Unidos - do democrata John Kennedy - mudavam de posição, adotando o princípio da autodeterminação dos povos, a ONU acolhia o mesmo princípio, à revelia do Direito Internacional vigente, descurando a validação da representatividade dos “movimentos de libertação”.

   Perante este quadro, concorde-se ou não com as políticas de Salazar, a capacidade deste resistir a toda esta turbulência - sabotagem, subversão, guerra colonial em três frentes e diplomacia internacional - durante cerca de 44 anos , foi invulgar. Ainda assim, de 1950 a 1974, Portugal foi um dos países do mundo cujos indicadores sociais mais progrediram. Foram os anos de ouro da economia portuguesa. Sem ajudas externas. Nem Delgado, nem Galvão, nem Cunhal, nem Soares conseguiram derrubar Salazar, nem Cuba, nem a URSS, nem os EUA, nem os países nórdicos, nem Marrocos, nem a Argélia. Foi um ditador, sim, mas não fascista. Se o tivesse sido, muitos dos seus opositores não teriam sobrevivido à prisão- Henrique Galvão, Álvaro Cunhal, Mário Soares, Palma Inácio, Manuel Serra, Amândio Silva e muitos outros.

    A incompatibilidade entre Delgado e Galvão era irreversível, e apesar das tentativas de conciliação dos respetivos correligionários, atinge o auge em Outubro de 1961, quando, numa conferência de imprensa em Casablanca, Humberto Delgado acusa Henrique Galvão de traição, denunciando o hipotético golpe que este estaria a preparar contra Portugal, em Casablanca.

   Ambos planeavam ações armadas contra Portugal, mas apesar dos esforços de Galvão, não foi possível conciliá-las. Delgado queria iniciar a revolta sublevando uma unidade militar com infiltrados a que seria dada sequência pelo levantamento popular previamente fomentado. Viria a ser a fracassada revolta do quartel de Beja, em Janeiro de 1962. Galvão queria tomar o posto militar de Santa Luzia em Viana do Castelo onde acreditava resistir 48 horas com uma pequena força dando tempo ao levantamento popular - na sequência do lançamento de panfletos a partir de um avião sequestrado para o efeito. A sublevação do quartel não foi possível por falta de capacidade de recrutamento de Manuel Serra, Raúl Marques e José Paulo Graça. Não havia voluntários.
O mesmo se verificara na Venezuela quando Galvão quis lançar um atentado contra Salazar.
Foto; Jânio Quadros (Presidente do Brasil)

Peniche, 11 de Fevereiro de 2019
António Barreto

 

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