Humberto Delgado, O Mártir Socialista
E foi assim que, apesar dos avisos de risco de assassinato de Henrique Cerqueira - colaborador direto e representante de HD - e de Mário Carvalho - Delegado em Roma de HD -, o General Sem Medo, no dia 10 de Fevereiro de 1965, em Tetuão, após entregar a sua arma a Henrique Cerqueira e depois de ter tomado várias providências a título preventivo - instruções de atuação e documentação depositada nos serviços presidenciais argelinos a levantar por Henrique Cerqueira caso não se verificasse o seu regresso até dia 21 de Fevereiro -, iniciou a sua viagem para Badajoz sob o nome de Lourenzo Ibañez, com escala em Algeciras em 11/02, em Mérida em 12/02 e em Badajoz em 13/02, onde seria assassinado em 14/02, juntamente com a sua secretária-amante, Arajarir de Campos. Depois de muita controvérsia e especulação acerca do desaparecimento do General, o seu corpo e o da sua secretária viriam a ser descobertos em 24 de Abril em Villanueva Del Fresno, junto ao caminho vicinal Los Malos Pasos, perto da fronteira portuguesa. Estava consumada a tragédia, tendo-se seguido uma luta feroz entre oposicionistas pelos despojos e de responsabilização mútua pelos assassinatos.
Peniche, 1 de Março de 2019
António Barreto
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
E foi assim que, apesar dos avisos de risco de assassinato de Henrique Cerqueira - colaborador direto e representante de HD - e de Mário Carvalho - Delegado em Roma de HD -, o General Sem Medo, no dia 10 de Fevereiro de 1965, em Tetuão, após entregar a sua arma a Henrique Cerqueira e depois de ter tomado várias providências a título preventivo - instruções de atuação e documentação depositada nos serviços presidenciais argelinos a levantar por Henrique Cerqueira caso não se verificasse o seu regresso até dia 21 de Fevereiro -, iniciou a sua viagem para Badajoz sob o nome de Lourenzo Ibañez, com escala em Algeciras em 11/02, em Mérida em 12/02 e em Badajoz em 13/02, onde seria assassinado em 14/02, juntamente com a sua secretária-amante, Arajarir de Campos. Depois de muita controvérsia e especulação acerca do desaparecimento do General, o seu corpo e o da sua secretária viriam a ser descobertos em 24 de Abril em Villanueva Del Fresno, junto ao caminho vicinal Los Malos Pasos, perto da fronteira portuguesa. Estava consumada a tragédia, tendo-se seguido uma luta feroz entre oposicionistas pelos despojos e de responsabilização mútua pelos assassinatos.
Quando o General e a
sua secretária chegaram a Badajoz, no dia 12 de Fevereiro de 1965,
hospedando-se no hotel Simancas, onde
se terão encontrado com quatro africanos não identificados, Uma brigada da PIDE
composta por António Rosa Casaco (agente sob nome falso), António Lopes Ramos
(Ernesto Castro e Sousa, um dos presentes na reunião de Paris), Agostinho Tienza, agente sob nome falso) e
Casimiro Monteiro (agente sob nome falso), transpôs a fronteira portuguesa de
São Leonardo em duas viaturas com as matrículas falsificadas.
Lopes Ramos ter-se-á
encontrado no dia seguinte com Humberto Delgado a Arajarir de Campos, conduzindo-os a local ermo próximo de Olivença,
onde os restantes agentes da PIDE os aguardavam. O Acórdão do 2º Tribunal
Militar Territorial de Lisboa, que julgou o caso, proferido em 27 de Julho de
1981, considerou provada a culpabilidade material de Casimiro Monteiro no
assassinato do General e sua secretária, “por resolução sua e isolado agir”, ilibando
todos os outros intervenientes destes crimes.
O Governo Português
estava ao corrente das intenções de Humberto Delgado, pelo menos desde 8 de
Janeiro de 1964 quando o adido naval da Embaixada de Portugal em Madrid
informou a PIDE através do MNE de que, segundo o Ministério da Marinha
espanhol, aquele era o chefe comunista soviético para a península ibérica e
preparava ações revolucionárias na península, razão pela qual, tinham tomado
medidas preventivas.
Na véspera da
chegada do General a Badajoz, 11 de Fevereiro de 1965, o adido militar naval e
aeronáutico da Embaixada de Itália em Lisboa terá alertado as autoridades
portuguesas para a iminência do início duma guerra de guerrilha em Julho desse
ano, em preparação por Humberto Delgado
Um dos muitos
relatórios que um informador infiltrado na comunidade oposicionista do Rio de
Janeiro - que se supõe tenha sido um tal Gusmão Calheiros, comunista expulso do
PCP - enviou à PIDE em 26 de Fevereiro de 1964, faz referência a um tal
“General”, supostamente de nome Juan
Perea, o qual terá pedido a Ben Bella
apoio idêntico ao que dispensava a Humberto Delgado, com a finalidade de organizar
o Exército de Libertação antifascista, para o qual garantia capacidade de
recrutamento imediato de 10 mil operacionais - espanhóis oriundos do sul de
França, que se estavam a tornar incómodos para este país -, com o qual
pretendia derrubar o regime de Franco.
Por seu lado, o
Presidente argelino pretenderia a unificação das forças ibéricas, constituindo
regimentos mistos, com idêntico fardamento, o mesmo armamento, a mesma
instrução e a mesma organização tática. O seu propósito seria o da constituição
de uma República Popular Ibérica unificada, na qual Portugal seria absorvido
pela Espanha. Numa primeira fase, as forças de libertação dependeriam do Chefe
de Estado-Maior argelino, e, numa segunda fase, mediante certos pressupostos,
constituiriam, por decreto governamental, a Legião Estrangeira Argelina
passível de intervenção militar sobre Marrocos ao serviço do Governo de Argel.
Este compromisso terá sido assinado por ambos os rebeldes ibéricos, que, com
este ato, terão aceitado transformar as suas Forças em mercenários ao serviço
do governo argelino.
Como interpretar
tudo isto? Que o processo eleitoral do Estado Novo era fraudulento, não haverá
dúvidas. Que o voluntarismo romântico libertário e despeitado, misturado com os
elevados egocentrismos quer de Henrique Galvão quer de Humberto Delgado, também
não andará longe da verdade. Que, este, tenha sido objeto de instrumentalização
política pelo Partido Comunista, após a dissidência com aquele, também não
custa a crer. Que o cenário da sua morte constava nas previsões de Humberto
Delgado, não haverá dúvidas. Que a morte deste era do interesse do Governo de
Salazar é, quanto a mim, discutível. Que, por outro lado, seria do interesse do
Partido Comunista e do grupo de Mário Soares, a morte de Humberto Delgado com
imputação da respetiva responsabilidade a Salazar, também faz sentido. Que
aqueles seriam conhecedores da armadilha preparada pela PIDE, na reunião de
Paris, a Humberto Delgado e, intencionalmente, não o tenham dissuadido da ida a
Badajoz, também não custa a acreditar. Que as várias células oposicionistas da
Venezuela, Rio de Janeiro, Marrocos e Argélia estavam infiltradas por agentes
da PIDE insuspeitos, é um facto. Que o Partido Comunista se servia desta
polícia para afastar opositores internos - veja-se o caso das FAP e de João
Pulido Valente -, é uma realidade. Que o projeto de HD de intervenção armada
imediata em Portugal neutralizava a estratégia do PCP esvaziando a sua função
política, quer interna, quer no âmbito da sua parceria com a URSS, não haverá
dúvidas.
Foto: O Uige, da CCN (um dos "meus" navios)Peniche, 1 de Março de 2019
António Barreto
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