Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
Avisado pelos seus próprios correligionários, recusando-se a
trair quem o tinha traído - Lopes Ramos, Mário de Carvalho e outros -, HD,
assumindo o risco da própria vida, foi ao encontro da morte, acreditando que,
face às diligências que tomara, estaria a salvo.
Peniche, 4 de Março de 2019
António Barreto
Quanto ao Governo
de Salazar, avisado da iminência duma guerra civil, patrocinada pelo
ex-candidato presidencial, estaria entre a espada e a parede, quer o
assassinato quer a prisão constituiriam um embaraço suscetível de provocar
danos na imagem externa do governo. Julgo porém que o propósito de Salazar
seria o de deter HD, para submissão a julgamento; único procedimento
internacionalmente aceitável. De todo o modo, ninguém poderá negar ao seu
Governo o direito de impedir a invasão do território e de evitar uma guerra
civil.
A propósito, li por
aí em local que de momento não recordo, que os assassinatos teriam sido
fortuitos, Humberto Delgado, corajoso e frontal, mas desarmado, terá reagido às
provocações dos agentes da PIDE, de que resultaram escaramuças que culminaram
com o assassinato do General, por Casimiro Monteiro, e de Arajarir de Campos, por Agostinho
Tienza.
Noutro plano, a
estratégia de Delgado era suicidária; o General estava disposto a incendiar
Portugal com uma guerra civil de consequências imprevisíveis, para derrubar o
regime e ascender ao poder. Os horrores da guerra civil espanhola, bem como os
da 2ª Guerra Mundial, pareciam não o impressionar. Neste aspeto, honra seja
feita ao Partido Comunista que apostou num lento trabalho de consciencialização
popular e na subversão dos organismos públicos. Por outro lado, Humberto
Delgado demonstrou sempre uma postura autoritária junto dos colegas
oposicionistas, impondo a todos a suas decisões, avesso à colegialidade,
revelando-se intrinsecamente autoritário à semelhança do rival que pretendia
derrubar.
Quer relativamente a
Henrique Galvão, quer relativamente a Humberto Delgado, há uma faceta omissa na
retórica prevalecente no espaço público; a do patriotismo; ambos defendiam a
integração de Portugal numa federação ibérica o que, quanto a mim, configura um
ato de traição tendo em conta a gesta independentista de 9 séculos. Ressalve-se
a recusa de Henrique Galvão da oferta da URSS de fornecimento de armamento -
mísseis -, para afundamento do paquete Vera Cruz (de que fui tripulante), com
1500 militares a bordo. Recorde-se, a título de curiosidade, que o sequestro
dos 32 tripulantes do navio costeiro Angoche, com posterior assassinato destes
num campo de prisioneiros da Frelimo na Tanzânia, terá sido, supostamente,
executado por forças navais da URSS, com a colaboração do Partido Comunista
Português e, segundo consta, dalguns setores da Forças Armadas lusas em
Moçambique.
Hoje não restam
dúvidas de que, num primeiro tempo, o grande vencedor da “Revolução” de Abril
foi o PCP; com enorme retardo - 16 anos -, tudo se passou como planeara; um
pronunciamento militar com adesão imediata do povo “consciencializado”.
Num segundo tempo, o grande e definitivo
vencedor, “ao sprint” foi Mário
Soares; “correndo” na esteira de Delgado e Cunhal, resignado ao papel de
parceiro de Cunhal, perante a prepotência política deste e o rumo
antidemocrático que estava a ser imposto ao país, Mário Soares, com o seu PS,
assumiu frontalmente a defesa da democracia com o que granjeou robusto apoio
popular ratificado nas eleições constituintes de 1975 e legislativas, de 1976.
De então para cá Portugal vive a “pax
socialista”, onde os princípios programáticos do projeto de Humberto Delgado,
defensor da democracia socialista, estão bem patentes no projeto socialista em
curso.
Foto: Paquete Serpa Pinto, da CCN.Peniche, 4 de Março de 2019
António Barreto
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