"Na sequência da biografia marítima de João Fernandes Mano (Agualusa), só poderia ocupar-me, de seguida, da de João Maria da Madalena, respectivamente, Capitão e piloto do lugre Gamo que, em 1918, foi torpedeado por um submarino alemão camuflado, a 31 de Agosto, navegando o lugre na latitude 46º 02’ N e longitude 32º 32’ W, na rota dos Açores, tendo sobrevivido a uma aventura extenuante. Salvaram-se 34 dos 39 náufragos que tripulavam o bacalhoeiro Gamo, tendo aportado ao Faial em 8 pequenos dóris, quase sempre sem comer nem beber, 470 milhas à vela, a remo e a correr com as vagas." (Ana Maria Lopes em Marintimidades)
"Por volta das 5 horas, rebentou dentro do navio um grande golpe de mar que inteiramente varreu o convés, formando a água castelo que ia até meia altura do mastro e que levou toda a borda falsa dos dois lados e 33 dories, arrancando as poucas velas que estavam içadas, partiu com fragor os «alvois» das escotilhas, a roda do leme e levou tudo quanto se encontrava solto no convés." (respigado por Ana Maria Lopes, do diário de bordo do Santa Regina, em Marintimidades)
https://youtu.be/0ge5M92dtqI
O Homem e o Mar
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!
E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
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