No início do século XVIII alvoreceu a
Revolução Industrial com seu cortejo de implicações económicas e sociais muito semelhantes
às que se verificam hoje, refletidas num texto anónimo de 1701 de nome Considerations upon the East Indian Trade:
com efeito fará desaparecer naquelas
indústrias, as que são menos úteis e menos lucrativas. As pessoas que aí
estiverem empregadas procurarão outras ocupações, mais simples e mais fáceis de
encontrar: ou então ocupar-se-ão de tarefas parcelares e especiais nas indústrias
mais complexas. ...Assim, o comércio com as Índias terá o seguinte resultado:
distribuir-se-ão as diferentes operações que constituem os trabalhos mais
difíceis por vários operários qualificados, em vez de confiar excessivamente na
habilidade de um só. …Enfim, o comércio com as Índias Orientais, trazendo-nos
artigos fabricados por um preço mais baixo que os nossos, terá muito provavelmente
como efeito obrigar-nos a inventar processos e máquinas que nos permitam
produzir com menos mão de obra e menor custo, e através disso, baixar os preços
dos produtos manufaturados.
A Revolução Industrial, considerada por
muitos como a transformação mais
fundamental da vida humana na História do mundo, surgiu e desenvolveu-se no
quadro da expansão comercial decorrente da colonização encetada pelos
portugueses em 1419 com a tomada de Ceuta, confundindo-se por breve período com
a História da Grã-Bretanha, na sequência da Revolução
Gloriosa, de 1688 - que impôs o fim da Monarquia absolutista - Jaime II -,
e implantou a Monarquia Parlamentar Constitucional - Guilherme III - proporcionando
a ascensão da burguesia responsável pela criação das condições para a sua
eclosão: …a única oficina do mundo, o seu
único importador e exportador em grande escala, o seu único transportador, o
seu único imperialista, praticamente o seu único investidor estrangeiro; por
essa razão a única potência naval e o único país que se pode dizer que possuía
uma verdadeira política mundial (E.J.Hobsbawm, Industry and Empire 1968/69).
Combatem-se os monopólios, aumenta a
concorrência, introduzem-se na sociedade inglesa; o chá das Índias, as
porcelanas da China popularizadas pela rainha Maria da Holanda, os tecidos de
algodão - indianos, persas, de Calicut - e
os mais variados produtos característicos da riqueza da Inglaterra à época.
Na sequência de um empréstimo de 1,5
milhões de libras esterlinas, à Coroa Inglesa, ao juro de 8% ao ano, para
financiamento da guerra com a Flandres, um grupo de financeiros é autorizado a criar,
em 1698, o Banco de Inglaterra, especializado nos pagamentos entre Estados e
companhias de comércio em todo o mundo, na tradição dos financeiros de Londres,
tendo-lhe sido concessionado o monopólio da emissão de notas de Inglaterra e do
País de Gales.
O desenvolvimento interno é financiado
por bancos provinciais fundados, muitos deles, por manufatureiros - entre os
quais os Lloyds e os Barclays - havendo na praça de Londres, 24
em 1725, 42 em 1770, 52 em 1776. Os bancos do interior são de 12 em 1755, 150
em 1776 e 400 em 1793.
Num século, o valor das trocas comerciais
aumenta por 5,5 vezes, quadruplicando o rendimento nacional. Primeiro comércio
mundial, a Inglaterra exporta produtos fabricados, hulha - em detrimento do
milho -, vende-se transportes marítimos e serviço de entreposto aos operadores
comerciais entre as Américas, as Índias, o mediterrânio e o Báltico. No
Comércio Triangular - Europa, África e América -, floresce o negócio dos
escravos, do açúcar, das armas e do algodão, destacando-se, respetivamente, as
cidades de Bristol, Liverpool, Birmingham e Manchester. Graças ao Union Act, publicado em 1707, a Escócia prospera
ao participar no comércio colonial, que lhe era anteriormente inacessível.
Todo este fervilhar económico suscita
inovações de monta, em particular nos transportes, desenvolvendo-se a rede viária
num modelo de financiamento agora designado por PPP - em que particulares abastados,
recorrendo a capitais próprios ou emprestados, financiavam as obras a troco de
cobrança futura das correspondentes portagens - em vez do recurso à corveia -
trabalho gratuito dos servos ou camponeses - praticada em França e outros
países do continente europeu. No transporte rodoviário passa a usar-se o cavalo
em detrimento do Burro e os caixeiros viajantes fazem concorrência às feiras,
vendendo por amostra. A grande inovação acontece no desenvolvimento maciço do
transporte fluvial tornando navegáveis rios e ribeiros e construindo canais
entre os centros de produção e de consumo ou expedição, proporcionando, por
exemplo, a redução do custo da hulha a metade. A espiral da procura impelia a expansão da
produção agrícola, mineira e transformadora.
(Síntese livre da "História do Capitalismo, de Michel Beaud)
(Síntese livre da "História do Capitalismo, de Michel Beaud)
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