Introdução
Sete dias depois do ato eleitoral a contagem de votos aproxima-se do fim com a vitória do candidato democrata Joe Biden a definir-se com clareza, a despeito das múltiplas denúncias de irregularidades por parte do seu oponente que levaram à recontagem de votos nalguns Estados.
A falta de envolvimento direto na realidade social, económica e política americana, se, por um lado, relativiza a credibilidade das conclusões de quem se encontra nessa condição - o meu caso -, por outro, confere-lhe a descontaminação que o distanciamento proporciona.
Em todo o processo definiram-se contornos de natureza política e social comuns a muitos países democráticos.
Um país dividido
Que me recorde esta divisão já ocorria por ocasião da eleição do 43º Presidente dos EUA, em que George W. Bush ganhou a Al Gore por “uma unha negra”, repetiu-se na eleição de D. Trump contra Hillary Clinton e agora entre Joe Biden e D. Trump.
Estão em confronto duas realidades sociais e económicas distintas; a das populações dos grandes centros urbanos, qualificada, da economia dos serviços, intelectual, ateia ou pagã, próxima dos centros de poder, e progressista, e a do país profundo, rural, artesão, cristão, distante dos centros de poder, e conservador. Algo semelhante ocorre, por exemplo, em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, etc. Diz-nos a história, que, em geral, é a “canalha das cidades” que define os ciclos políticos. Portugal é disso exemplo, nomeadamente, em 1383-1385, em 1640 e em 1910.
É neste contexto que se compreende a importância do fenómeno da imigração maciça que tem ocorrido nos últimos tempos. Apoiados incondicionalmente pelos democratas é natural e inevitável a sua preferência por este partido tendo em conta a estratégia de controlo dos fluxos migratórios pelos republicanos e a natureza do regime político dos respetivos países de origem de matriz política maioritariamente socialista ou afim. É por esta razão que me parece que o que subjaz à tomada de posição partidária relativamente à imigração são razões eminentemente eleitorais e não humanitárias. A imigração parece estar a ser fomentada e usada com o propósito de reconfigurar socialmente os EUA, o que ocorre também na Europa.
Desconfiança eleitoral
As denúncias de irregularidades neste ato eleitoral são persistentes e abundantes tal como ocorreu em eleições anteriores. Numa democracia que é o referencial em todo o mundo livre a repetida entropia à volta do ato eleitoral degrada a sua legitimidade. A relutância de D. Trump em aceitar a derrota radica não só, em alegados testemunhos de irregularidades mas sobretudo no ressentimento provocado pela postura dos democratas em todo o mandato anterior caracterizada por insistentes suspeitas de manipulação eleitoral em seu benefício e com a ameaça de impeachment sempre pendente. Quando, num ato eleitoral, sucessivamente, o derrotado não reconhece a derrota, é a própria democracia que se degrada, neste caso, americana. Não tardará a contaminar todas as outras. Uma nova idade das trevas pode estar no horizonte, vislumbrando-se alguns dos seus contornos.
Peniche, 29 de Novembro de 2020
António Barreto
Sem comentários:
Enviar um comentário