Trabalhadores
Era noite de inverno, Zézito, de onze anos, fora incumbido pelos seus pais, ausentes nos suas azáfamas da subsistência, de tomar conta do seu irmão, Miguelito, sete anos mais novo. Era uma casa meio solitária onde o zumbido do vento ao vergar as árvores dos pinhais próximos, metia respeito. Zé lembrou-se de uma brincadeira; foi à sala do lado, cobriu-se com um lençol dos pés à cabeça e foi ao encontro do irmão lançando exclamações anunciadoras dum pretenso "papão". Miguelito assustou-se desatando a chorar. Zezito, estarrecido, comoveu-se, tirou o lençol, e mais comovido ficou ao constatar a alegria do mano ao vê-lo. Não havia papão! Zezito gostou que o mano visse nele um amigo e protetor capaz de afastar os "papões". Repetiu a façanha uma ou duas vezes até sentir-se desconfortável ao perceber a desonestidade que consistia em assustar Miguelito para "ganhar" a sua amizade.
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Veio-me isto à ideia a propósito das recentes polémicas sobre matéria tributária que puseram o país em alvoroço, com o Primeiro Ministro em visita oficial ao Brasil. Depois do prolongado pavor a que foram submetidos pelo "destrambelhamento" fiscal anunciado pelos apoiantes institucionais do atual Governo, os cidadãos alvo tranquilizaram-se, agradecidos, perante as referências apaziguadoras do Primeiro Ministro no seu regresso, vendo nele o providencial protetor contra a insaciável voracidade dos tributaristas. Fica assim mais uma vez demonstrada a "indispensável" função de "charneira" política que tem sido atribuída ao atual partido do Governo como o único capaz de controlar os excessos da esquerda radical. O Primeiro Ministro conta assim contabilizar mais uns milhares de eleitores agradecidos e empenhados na sua reeleição, graças à sua "moderação".
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