Ferdinand Hodler , Disappointed Soul 1889
Acentua-se a denúncia das desigualdades
sociais identificando-se a propriedade como a sua principal causa. Enunciam-se
conceitos fundadores das sociedades modernas que acabarão com a estrutura
feudal e com os absolutismos.
Rosseau, encarregado da secção de Economia Política da Enciclopédia resume brutalmente o pacto
social prevalecente asseverando que o rico permite ao pobre a honra de o servir
exigindo em troca o que lhe resta pelo trabalho de o dirigir. Mais uma vez
paradoxal, Rosseau abomina a sociedade civil associada à propriedade mas não
preconiza a abolição desta, considerando-a o mais sagrado de todos os direitos
dos cidadãos. Contudo considera necessário limitar a acumulação, pela via
fiscal, não retirando a riqueza aos seus
possuidores, mas tirando a todos os meios de a acumular; nem construindo
hospitais para os pobres mas livrando os cidadãos de se tornarem pobres.
O abade Mably atribui à propriedade a causa de todos os infortúnios da
humanidade defendendo a propriedade coletiva onde o Estado distribui a cada um
os bens de que necessita, à semelhança de Esparta e dos índios paraguaios.
Já Diderot, se por um lado reprova com veemência
a brutal desigualdade, considera a propriedade privada necessária à proteção do
indivíduo.
Helvétius, na linha de Diderot, condenando o sobretrabalho de muitos face ao excesso
de bens supérfluos de muito poucos, instiga o governo a atenuar essas
diferenças pela redistribuição e garantia de acesso de todos à propriedade.
D’Holbach, preconizando a substituição da moral religiosa pela natural incentiva o
governo a tributar o luxo para dar ao
pobre a possibilidade de viver do seu trabalho e impedir a acumulação de
riqueza em poucas mãos. Propõe oficinas para os pobres e a coletivização
dos terrenos incultos para dar aos que os pudessem cultivar.
Raynal, na mesma linha de revolta contra as brutais desigualdades, proferindo que
por toda a parte o rico explora o pobre, preconiza
a supressão da herança incitando ao enforcamento dos ricos como forma de
recuperação da dignidade.
Linguet, autor de várias obras, considerando a propriedade uma usurpação e a origem
da corrupção das almas, tece considerações curiosas acerca dos trabalhadores do
seu tempo considerando-os infinitamente mais miseráveis, apesar de livres, que
os seus pais enquanto servos e escravos; a
miséria redu-los a ajoelharem-se diante do rico para que este os autorize a
enriquecê-lo. Realista, afirmava não ser possível garantir a felicidade de
todas as pessoas do reino. Defendeu a necessidade de representação dos pobres na
assembleia destinada a realizar a reforma geral política da França.
A outra face do capitalismo, ainda
embrionário, surgia pelas vozes de Turgot
e dos fisiocratas em França e de Adam
Smith em Inglaterra, defendendo a necessidade de acumulação do capital.
PS: Rosseau, que não conheceu sua mãe - morreu pouco depois do parto - e que pouco conviveu com seu pai - calvinista -, viveu em concubinato; primeiro com uma mulher abastada, que abandonou após a ruína, trocando-a por outra com quem não casaria e de quem teve cinco filhos que entregou ao orfanato os quais nunca chegou a conhecer. Nas suas cartas a madame Francueil explica os seus motivos e, já no ocaso da vida, suplica-lhe ajuda para a mãe dos seus filhos.
PS: Rosseau, que não conheceu sua mãe - morreu pouco depois do parto - e que pouco conviveu com seu pai - calvinista -, viveu em concubinato; primeiro com uma mulher abastada, que abandonou após a ruína, trocando-a por outra com quem não casaria e de quem teve cinco filhos que entregou ao orfanato os quais nunca chegou a conhecer. Nas suas cartas a madame Francueil explica os seus motivos e, já no ocaso da vida, suplica-lhe ajuda para a mãe dos seus filhos.
(Síntese livre de História do Capitalismo, de Michel Beaud)
Sem comentários:
Enviar um comentário