Humberto Delgado foi o promotor e organizador do fracassado assalto ao
quartel de Beja realizado em 31 de Dezembro de 1961, no qual participaram,
entre outros, Adolfo Ayala, Manuel
Serra e o capitão Varela Gomes. Na sua passagem por Argel, em 1964, qual Dom
Quixote, planeava, com o apoio de Ben Bella
- Presidente da Argélia pós independência até ao golpe de Estado de Boumedienne em 1965 - e a colaboração de
um militar republicano espanhol no exílio, constituir e treinar, na
Argélia, um exército, para invadir, a partir do Algarve, Portugal e Espanha,
destituir os respectivos governos e instaurar democracias (foi também a causa de
Henrique Galvão, o criador do Humberto Delgado político).
No seu livro “ O Bando de Argel” Patrícia
Mcgowan, a esse respeito, diz o seguinte:
“ Não se sabe ao certo o que Ben Bella prometeu a Delgado na famosa
conversa de 30 de Julho. Pessoas próximas do General diziam, na altura, que
houvera promessas de dinheiro, de material, de campos de treino- e até homens
-, para uma acção de envergadura contra Salazar a partir do exterior. Mas, mesmo
que Ben Bella tivesse sido momentaneamente sincero com Delgado, a realidade era
que não tinha possibilidade de cumprir as suas promessas. O poder estava fraccionado
entre diversos feudos militares cujas origens datavam da guerra contra os
franceses. Quem iria ganhar a luta surda que se tratava nos bastidores (nesse
ano que antecedeu o golpe de Estado de Boumedienne em Junho de 1965) era um
mistério, mesmo para os argelinos melhor informados.
No vazio de poder real criado
à volta da presidência, os PCs, argelino e francês, manobravam, com a ajuda
sempre presente dos serviços soviéticos.”
Peniche, 18 de Janeiro de 2020
António Barreto
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