Foi na Argélia pós-independência - 1962 -, no turbilhão político
económico, social e militar que se lhe seguiu, que, um punhado de portugueses -
cerca de 40; exilados, fugitivos, refratários e desertores -, controlados por
opositores ao regime autoritário de Salazar - através da FPLN; Frente
Patriótica de Libertação Nacional -, de que se destacou Humberto Delgado,
Piteira Santos, Mário Soares e Álvaro Cunhal, foi tecendo a teia que haveria de
lhes proporcionar os frutos políticos da “revolução” de abril. Em simultâneo,
os movimentos independentistas das províncias portuguesas - com sede em Rabat na
CONCP; Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas -
lutavam pela acreditação e apoios externos, protagonizando uma luta interna
fratricida induzida pelo imperialismo soviético, na sua ânsia de controlo de
África, em compensação da desistência de Estaline dos propósitos da 3ª
Internacional, conforme acordado na Conferência de “Yalta”.
Muita coisa pouco edificante por lá sucedeu por parte dos,
posteriormente aclamados, heróis da revolução dos cravos. O Estado prepotente e
controlador, que os portugueses, hoje, sofrem na pele, já estava bem patente na
espécie de embrião que germinava na pátria dos berberes.
Vejamos o que diz “Patrícia
McGowan” - testemunha direta -no seu livro “O Bando de Argel”, pág. 35 e
36:
“A Conferência das
Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) tinha a sua sede em
Rabat, capital de Marrocos. Secretariado por Aquino de Bragança (Goa) e por
Marcelino dos Santos (Moçambique), este organismo recebeu asilo e ajuda em
Marrocos, graças à amizade pessoal existente entre o rei Hassan II e Marcelino
dos Santos. Este último, quando estudante em Paris, tinha prestado serviços ao
então príncipe herdeiro de Mohamed V, quando os marroquinos ainda estavam em
luta pela independência do antigo protetorado francês.
Ao princípio, as relações
dos nacionalistas das colónias portuguesas com os argelinos não eram estreitas.
Os lusófonos eram marxistas, críticos do PCP, mas desconfiados do islamismo dos
argelinos. Em segundo lugar, os argelinos pareciam já comprometidos em ajudar a
UPA de “Holden Roberto”, movimento francamente anticomunista. “Holden Roberto”
mantinha excelentes relações com muitos dirigentes argelinos, principalmente na
Tunísia.
Os chefes do MPLA, do
PAIGC e da futura FRELIMO, reunidos na CONCP, aguardavam nervosíssimos uma
independência argelina que poderia trazer à UPA um apoio prestigioso.
Em 1962 andavam
desesperadamente à procura dum esquema que pudesse impressionar os argelinos e
anular a influência de “Holden Roberto”, mas, entretanto, era difícil saber
qual a fação argelina que iria ganhar.
Foi nesse Rabat de verão
quente, a arder de intrigas, cheio de grupos de pressão internacionais, que
veio cair o Fernando António Piteira Santos. Fugido de Portugal, após um
período de clandestinidade, tinha atravessado a fronteira com três fatos
vestidos, já a pensar na sua futura vida social pelas alcatifas de governos e
embaixadas.
Um indivíduo com muitos
inimigos na oposição., “perigosamente ambicioso” (como diria mais tarde
Delgado), Piteira Santos era dos poucos portugueses que já tinha uma certa
familiaridade com as dissidências do movimento marxista. Expulso do PC por duas
vezes, em 1945 e 1951, a primeira vez por denunciante na polícia e a segunda,
acusado de pró-Jugoslávia, tinha fama de trotskista, e era tido, a bem ou a
mal, pelos militantes do PCP, como agente de PIDE.
Foi bem acolhido pela
CONCP, que, na altura, não se entendia com Cunhal por este querer dominar a
política dos nacionalistas africanos. Conseguiram-lhe a ajuda dos marroquinos e
documentos para poder viajar. E naturalmente, apresentaram-no a “Michel Raptis” (Pablo) que o recebeu de braços abertos.
Estavam agora todos os
personagens principais em contacto. Nenhum deles representava qualquer
movimento real no seu país de origem. Cada um ambicionava o poder.”
Hoje, 45 anos
decorridos sobre o fim da “longa noite fascista” e das independências “libertadoras”,
toda a insana corrupção que jorra dos respetivos regimes confirma isso mesmo.
Nunca foi o bem-estar dos povos nem a justiça social, nem a igualdade de
oportunidades e o fim de todo o tipo de descriminações que motivou os mentores
dos novos regimes, mas, apenas e tão só, o exercício do poder e o acesso às
prerrogativas, económicas e sociais, que tal proporciona.
Eis como um punhado de “chicos-espertos”
controlam todo um povo, em nome da "liberdade".
Peniche, 25 de Janeiro de
2020
António Barreto
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