Da “revolução dos cravos” emergiu uma plêiade de “heróis antifascistas”,
“intransigentes defensores da liberdade, do Estado de Direito, do progresso
social e económico, da probidade, enfim; da democracia autêntica, pelo povo e
para o povo. Instituiu-se no espaço público uma monótona retórica encomiástica da
nova ordem onde a intolerância e a censura implícita e explícita se fazem
sentir. O povo, cansado, inseguro, descrente, aceita esta espécie de poluição
da narrativa política, quase indiferente, aceitando-a, e aos autoproclamados “heróis”,
impotente, como uma fatalidade, chegando mesmo a colaborar na farsa. Porém, um povo que preza a sua história, a sua
dignidade e a liberdade, deve saber distinguir os falsos mitos das pessoas que
cultivam e defendam os valores da dignidade humana.
Patrícia Mcgowan, no seu livro
“O Bando de Argel” dá-nos o seu testemunho. Eis um trecho da correspondente
introdução:
“O mistério do caso Delgado e os
factos insólitos que o rodeiam ilustram duma forma cabal o que foram e o que
são certas figuras proeminentes da classe política portuguesa. A protelação do
julgamento durante longos anos, a libertação inexplicada de réus principais, o
desaparecimento de documentação fundamental dos arquivos da PIDE, as proibições
e censuras a obras de inquérito sobre o assunto nos meios de comunicação
social, as calúnias e perseguições dirigidas a quem quisesse apresentar
testemunho fundamentado - e, finalmente, um julgamento em moldes deficientes,
baseado num libelo acusatório risível: tudo isto se passa num país que pretende
passar por um Estado de Direito!
Os responsáveis por esta
situação estão despidos de autoridade moral para criticar o antigo regime. E o
povo sente-o.
Os responsáveis são muitos e o
“bando de Argel” minúsculo Mas esse pequeno grupo, firmemente enraizado nas
cúpulas do PS ou por elas protegido, continua impune, ocupando posições de
relevo na vida nacional. O “bando”( com as suas múltiplas ramificações no PS,
no PCP e no setor militar ) esteve no centro do “PREC”, da “descolonização
exemplar, de dois governos constitucionais e continua ativo e esperançado em
vir de novo ocupar o centro do poder.”
Peniche, 19 de Junho de 2020
António Barreto
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