Guiné e Cabo Verde
A pobreza do arquipélago, consequência de seca regular, originou a
emigração de muitos cabo-verdianos para a Guiné onde exerceram atividades
ligadas ao comércio e foram integrando a administração pública local. Senegal e
Guiné francesa - hoje Conakri -, foram,
também, destinos privilegiados.
O
PAIGC foi criado por intelectuais cabo-verdianos (Amílcar Cabral não era
natural da ilha de Santiago, como refere Marcello, mas de Bafatá, na Guiné,
onde seu pai, cabo-verdiano de ascendência guineense casara com uma guineense
de ascendência cabo-verdiana. Foi aos oito anos para Santiago onde fez o ensino
primário, depois para o Mindelo, em São Vicente, onde fez os estudos
secundários, e, finalmente, para Lisboa onde frequentou o Instituto Superior de
Agronomia e conheceu, na Casa do Império, as grandes figuras dos movimentos de
libertação - Mário de Andrade, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos -,
familiarizando-se com a doutrina da “negritude” de Leopold Senghor que defendia a reafricanização dos espíritos. Amílcar
Cabral, foi funcionário dos Serviços Agrícolas e florestais da Guiné, onde
adquiriu profundo conhecimento das realidades sociais da província).
A junção da Guiné a Cabo Verde na reivindicação de independência
destinar-se-ia a justificar a presença e a supremacia dos naturais do
arquipélago no movimento.
Os cabo-verdianos eram
hostilizados pelos guineenses que os consideravam exploradores dos indígenas.
Terá sido essa a origem das tensões internas no PAIGC que poderão explicar o
assassinato de Amílcar Cabral (em 20 de Janeiro de 1973 em Conakri).
A economia da Guiné - com uma área equivalente à do Alentejo cortada por
vários rios e habitada por cerca de 20 etnias -, onde predominava a pequena
propriedade agrícola, era pobre, e não era o arquipélago que a iria ajudar.
Em 1968 iniciou-se em Cabo Verde uma das piores secas da história; durou
cerca de seis anos.
(A catástrofe da década de quarenta, que provocou a mortandade de cerca
de 50 mil cabo-verdianos e a emigração em massa de muitos outros para as
plantações de cacau em São Tomé e Príncipe, ainda na memória de Marcello
Caetano, não poderia repetir-se.)
A partir de 1968 estabeleceram-se planos de atuação aos primeiros
sinais. Na sequência da sua visita ao arquipélago em 1971, o Governo
implementou um vasto programa de apoio, proporcionando trabalho a todos - na
abertura e pavimentação de estradas e na pesquisa e captação de águas
subterrâneas -, na distribuição a baixo preço de bens alimentares essenciais,
no apoio sanitário - com nutricionistas a distribuir vitaminas a todos, leite
às crianças e o indispensável aos idosos. No Mindelo construíram-se silos de
milho para ser distribuído pela população e construiu-se uma estação de
dessalinização de água do mar que abastecia a população e a navegação, apesar
de cara. Para evitar a fome autorizou-se a doação de fundos, a pedido do
respetivo Governador; cerca de um milhão de contos neste período.
O prolongamento da seca no arquipélago e a escassez de mão-de-obra na
Metrópole - originada pela expansão económica e pela emigração para França e
Alemanha -, levaram o Governo a incentivar a emigração de cerca de vinte e
cinco mil cabo-verdeanos para a Metrópole.
Face às desastrosas consequências nos países africanos na época, onde os
mortos ultrapassaram as centenas de milhar, o sucesso de Cabo Verde constituiu
uma coroa de glória para Marcello Caetano, apesar das mentiras e propaganda
adversa da própria ONU.
Contrariamente ao que corria nos “mentideiros do mundo”, durante toda a
visita de Marcelo Caetano ao arquipélago de Cabo Verde, não houve qualquer
sinal de hostilidade; apenas manifestações de apoio, compreensão e patriotismo.
Devido à sua economia de pequenos proprietários agrícolas indígenas -
que conservaram as suas propriedades -, e à escassa instalação de empresas
europeias no território, a descolonização da Guiné teria sido simples de levar
a cabo, não fosse a a repercussão que teria nas restantes províncias e o
consequente abandono de Cabo Verde. A solução teria de ser global e o
arquipélago não podia ser deixado à mercê dos apetites internacionais quando a
URSS já tinha a sua primeira base naval na Guiné Conakri.
(Captura de Ngungunhane)
Peniche, 12 de Setembro de 2019(Captura de Ngungunhane)
António Barreto jr
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