A implementação do novo modelo
As eleições para as câmaras municipais, assembleias legislativas e juntas
consultivas realizaram-se de novembro de 1972 a 31 de Março de 1973, com
instruções para o alargamento máximo do recenseamento eleitoral e a
participação, nas listas de cada localidade, do maior número possível de
personalidades nativas. Excetuando o caso de Angola, este propósito terá tido algum
sucesso nas restantes províncias.
Aos críticos, em especial aos estadistas estrangeiros, que exigiam maior
rapidez e profundidade na política da autonomia progressiva, Marcello pedia
tempo.
Vários fatores contribuíram para a dificuldade de recrutamento de negros
nativos para substituição de funcionários e dirigentes brancos: a captação
pelos movimentos de libertação, com o apoio americano, de valores da população
negra, em especial dos que, na década de sessenta, frequentavam as
universidades portuguesas; a falta de comprometimento de outros; a
insuficiência de quantidade ou qualidade dos restantes e a lei que interditava
os funcionários públicos de fazer parte das Assembleias Legislativas.
Por outro lado, os que abandonavam as atividades revolucionárias - eram
frequentes na Frelimo - e voltavam às suas terras, tinham que passar por um
período de quarentena antes de serem integrados, a fim de não suscitarem
desconforto dos que tinham sido leais.
Marcello Caetano acreditava que o tempo permitiria superar estas
contingências, apesar da conjuntura económica desfavorável e da crescente
pressão internacional.
A espantosa revolução económica que se verificou, sobretudo em Angola e
Moçambique, resultou da adoção, nas províncias ultramarinas, da doutrina da
autonomia financeira em substituição do modelo de transferências criado pelo
Fundo Monetário da Zona do Escudo supervisionado pelo Banco de Portugal.
O sistema de transferências em vigor, em que os pagamentos das províncias
à metrópole em moeda local eram compensados em escudos metropolitanos obtidos nos
pagamentos em sentido inverso, acumulara um atraso superior a um ano, em
pagamentos da ordem dos 12 milhões de contos. Outro tanto estava oculto.
Com o novo modelo de autonomia financeira, cada província estava
“condenada” a assumir as importações conforme o respetivo orçamento anual
elaborado em função das receitas das correspondentes exportações.
Protestaram os grandes importadores de equipamentos e bens de consumo mas
seguiu-se um entusiástico movimento de instalação de novas indústrias em Angola
e em Moçambique.
(Hermenegildo Capelo)
Peniche 12 de Setembro de 2019
António Barreto jr
(Hermenegildo Capelo)
Peniche 12 de Setembro de 2019
António Barreto jr
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