Angola e Moçambique
A economia começou, rapidamente, a prosperar em Angola; às riquezas tradicionais - diamantes, algodão e café -, juntaram-se o ferro e o petróleo. Construía-se por toda a parte; aldeias transformavam-se em cidades, alargava-se a rede de estradas asfaltadas em todo o território. Em breve estariam liquidados os atrasados; a paridade entre o escudo angolano e o escudo metropolitano era possível, mesmo no mercado livre.
Moçambique tinha os melhores portos africanos do Índico; a sua economia
dependia essencialmente deles. Lourenço Marques, Beira e Nacala, serviam, por
via-férrea, respetivamente, o Transval, a Rodésia, o Malawi e a Zâmbia.
Um poderoso serviço público assegurava os transportes ferroviários,
rodoviários e aéreos com fundamental papel na economia do território.
O bloqueio do porto da Beira em consequência das sanções aplicadas à
Rodésia, afetou a economia da província. Fortemente importadora de bens de
equipamento e de consumo, as receitas de exportação do algodão, do sisal, do
açúcar, do caju, da copra e do chá eram insuficientes para equilibrar as
aquisições ao exterior.
Cabora Bassa, com uma albufeira de 250 Km de comprimento e 38 Km de
largura foi projetada para produzir 17 mil milhões de Kwh de energia elétrica,
irrigar uma vasta região e regularizar o caudal do rio Zambeze.
Calculava-se que cerca de um milhão de pessoas beneficiariam da expansão
agrícola. O receio de um novo surto de colonos na região provocou o alarme da
FRELIMO e na comunidade internacional.
Nos relatórios do Gabinete do Plano do Zambeze os destinatários do
projeto eram brancos e, especialmente, pretos. Tal como sucedera no vale do
Limpopo estes poderiam ter melhores condições de vida do que a que tinham nas
pobres palhotas espalhadas pelo mato.
Marcello Caetano hesitou, pela desproporcionalidade do projeto e pelos
encargos que acarretaria para o país. Apesar da garantia de financiamento da
obra pelo Consórcio - reembolsado posteriormente pela receita de venda futura
de energia à África do Sul -, era necessário proteger a linha de transporte de
energia elétrica - 1300 Km, 900 dos quais em território nacional -, contratar
elevado número de técnicos para fiscalização da obra e dar garantias.
Com partidários convictos no Governo, vencidas as dificuldades de
negociação com as empresas suecas e italianas do Consórcio - que, graças à
influência da FRELIMO recuaram nos compromissos assumidos -, a obra foi
entregue à ZAMCO, de que faziam parte empresas alemãs, francesas, sul-africana,
portuguesas, italianas e suecas.
Cabora Bassa foi uma bandeira antiportuguesa da comunidade internacional
e atraiu as ações terroristas da FRELIMO para o distrito de Tete, chegando a
ameaçar a divisão da província ao nível da cidade da Beira.
Graças sobretudo aos acrescidos encargos de construção da barragem, no
início de 1974, o pessimismo caracterizava a economia de Moçambique; um défice
cambial preocupante suscitava a intervenção da Metrópole tendo sido decidida
uma ajuda de três milhões e meio de contos.
Peniche, 12 de Setembro de 2019
António Barreto jr
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