A Guerra Colonial
Apesar da violência brutal que acompanhou a independência do Congo Belga em junho de 1960 e da afinidade dos negros do congo português com o os do congo belga, acreditava-se que nada de semelhante ocorreria do nosso lado em virtude do melhor relacionamento histórico entre negros e brancos.
Mas não era bem assim; o professor Joaquim da Silva Cunha, palmilhando o
território angolano de lés-a-lés, fez um levantamento exaustivo das várias
sociedades ocultas de cariz religioso e messiânico - que deu lugar ao relatório/livro
“Movimentos Associativos da África
Negra” - nas quais se difundia a promessa de libertação do continente
africano, do branco.
Este aviso de perigo eminente, suscitando algumas providências em termos
de segurança, reforçado com o ataque à prisão e a uma esquadra de polícia em
Luanda em 4 de Fevereiro de 1961, não evitou os bárbaros ataques de 15 de março
no congo português nos quais foram selvaticamente assassinados cerca de 1500
colonos e indígenas.
O desarmamento das populações na bacia do Zaire, imposto pelas
convenções internacionais, deixou os colonos indefesos. Só os aviões do
Aeroclube de Angola e militares, posteriormente, lançaram armas aos núcleos de
resistência dos colonos.
Reis Ventura, no seu “Sangue no Capim” descreve em género romance, a
tragédia desses tempos.
Salazar, envelhecido, magoado e torturado na sequência do sequestro do Santa
Maria, vacilou ante o desesperado pedido de auxílio das gentes de Angola.
Nas forças armadas reinava a intranquilidade: Craveiro Lopes,
ressentido, ameaçava o regresso à vida pública, enquanto no Departamento da
Defesa Nacional e no Ministério do Exército imperava o sentimento de impotência
equacionando-se o início das negociações com os EUA.
Daqui resultou a tentativa de golpe de Estado de Botelho Moniz na qual
Costa Gomes participou. Fracassado o golpe Salazar ganhou novo alento e
anunciou ao povo, pela televisão, a sua decisão de socorrer Angola “rapidamente
e em força”.
Um sentimento patriótico eclodiu por todo o país e consolidando a linha
de ação na defesa do Ultramar.
Marcelo Caetano manteve a política ultramarina quando, em 1968, assumiu
o Governo. O escasso número dos bandos guerrilheiros e a falta de
representatividade destes levou-o a considerar a questão ultramarina como um
caso de segurança interna.
Apurara que em nenhuma das três províncias havia uma rebelião
generalizada das populações. A subversão verificava-se em áreas restritas a
partir dos países vizinhos, graças a apoios estrangeiros. Não havia terrorismo
urbano, e mesmo na Guiné, a maior parte da população era fiel a Portugal.
Centenas, ou mesmo milhares de observadores estrangeiros, jornalistas,
diplomatas, políticos, comerciantes e industriais puderam viajar por toda a
parte nas três províncias, sem escolta, sem armas e sem problemas de segurança.
Para comprová-lo Marcello Caetano deslocou-se ao Ultramar em abril de
1969, visitando Bissau, Luanda, Lourenço Marques, Beira e Nova Lisboa; os
banhos de multidão, incluindo pretos e brancos, a ausência de atentados ou
distúrbios e os apelos de ajuda fortaleceram a sua decisão de prosseguir a
política em curso. Abandonar as populações seria uma traição ignóbil.
As efusões de apoio popular repetiram-se na Metrópole, em Lisboa logo à
chegada à Portela, e em especial na visita a Vila Nova de Gaia e ao Porto. O
Ultramar foi aclamado por todos.
Este foi o ciclo da legitimação do Governo de Marcelo Caetano e da sua
política de defesa do Ultramar. Assim o considerou o Presidente do Conselho.
(António Enes)Peniche, 14 de Setembro de 2019
António Barreto jr
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