Portugal
Traído
Fernando Pacheco
Amorim
(Edição de Autor)
Este livro de Fernando Pacheco Amorim - fundador do Partido do Progresso
e membro do MDLP -, escrito em Madrid onde o autor se exilou na sequência do 28
de Setembro, é um testemunho revelador dos tenebrosos bastidores políticos
decorrentes do 25 de Abril de 1974; do perfil pestilento de certos
protagonistas do regime emergente e das causas ocultas dalguns acontecimentos
decisivos na evolução política do país. As vicissitudes do PREC, marcadas pela
manipulação político-militar do PCP, estão aqui detalhadas. É exposto o caminho
trilhado no sentido de instaurar uma ditadura marxista em Portugal.
Fernando Pacheco de Amorim vê no materialismo a causa da decadência das
sociedades contemporâneas e na espiritualidade dos valores cristãos, fundadores
da civilização europeia, a força regeneradora daquelas. Capitalismo de Estado
nos regimes marxistas e capitalismo dos grandes grupos económicos nas democracias
burguesas, são as duas faces do mesmo materialismo gerador da inapelável
decadência coletiva.
O declínio dos valores cristãos é “o drama mais profundo dos tempos
modernos” na tese de Will Durand
(1885-1981); tal terá ocorrido a partir do século XVI com o desenvolvimento da
investigação científica, impulsionada pelo contributo revolucionário de Francis
Bacon (1561-1626). Por outro lado o autor exprime convicção idêntica à de Michel Beaud (1935), segundo a qual a
consequência inevitável da evolução da democracia é socialismo.
Para o autor, o Direito Internacional não passa de um meio com que as grandes
potências impõem os seus interesses. Ilustra a ideia com os casos da invasão de
Goa, Damão e Diu e do após o 25 de Abril, em que a violação normativa vigente
suscitou da comunidade internacional reação ambígua.
A situação colonial portuguesa - no plano da
descolonização geral acordada na Conferência de Yalta em 1945 - com exceção dos países comunistas, era,
inicialmente, tida como um caso especial - devido ao pendor não racista do
relacionamento secular dos portugueses com os povos de África e Ásia -, considerando-se
as colónias parte integrante do respetivo território. A resistência do governo
do Governo à substituição das estruturas coloniais e à integração das
populações africanas, conforme recomendação da Comissão de Curadores da ONU -
que implicaria o reconhecimento da efetivação da descolonização -, acabou por
levar o assunto à Assembleia Geral, onde, com a mudança de posição do Governo
americano - de John Kennedy em 1961
-, se iniciou o processo que culminou na descolonização de Abril. A subversão
interna - traição - das estruturas governamentais por elementos enfeudados ao
socialismo ou aos grandes grupos económicos externos e a resistência das
populações europeias nos territórios, inviabilizou a integração das populações
das colónias. Gorou-se, assim, a oportunidade de construção do Portugal
pluricontinental e multirracial sonhado por Salazar. Em contrapartida,
iniciou-se o processo de espoliação da nação lusa, planeado, há muito, pelos
dois imperialismos. Após o 25 de Abril de 1974, podia ler-se no Paris Match: “Portugueses, chegou a hora das lágrimas”. E, para muitos, chegou.
Quem é Fernando Pacheco Amorim?
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra foi
professor contratado dessa mesma Universidade até 1975, centrando
a sua vida académica nas áreas da Antropologia
e da Etnologia. Foi um dos líderes da oposição monárquica ao Estado Novo e o teorizador e permanente
defensor, em Portugal, do integracionismo
como solução adequada para uma eficaz política ultramarina. Tinha, neste seu
combate, o apoio dos Ministros Franco
Nogueira e José Gonçalo Correia de Oliveira
Fundaria, após a revolução de 25 de Abril, o Movimento Federalista Português,
mais tarde Partido do
Progresso, que viria a ser ilegalizado pelo MFA
na sequência do 28
de Setembro. Refugiado em Madrid,
regressaria a Portugal
após o Golpe de 25 de Novembro de 1975[1].
O seu
inconformismo lúcido, que particularmente se manifestava na defesa das teses
integracionistas e numa militância monárquica esclarecida fizeram, de Fernando
Pacheco de Amorim, um dos inspiradores ide-ológicos da direita universitária coimbrã na primeira
metade da década de setenta. (Wikipédia)
Foto: tela de D Afonso Henriques (1147)
Peniche, 8 de Abril de 2019
António Barreto
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