Portugal
Traído
Fernando Pacheco
Amorim
(Edição de Autor)
(anotado)
O 25 de Abril
A 17 de Março, após a traição da véspera, militantes do Partido
Comunista contactam as mulheres dos oficiais presos prometendo libertá-los até
dia 1º de Maio. Ao terem conhecimento, aqueles responderam preferir a prisão a
serem libertados pelos comunistas. Nas fileiras do Movimento reina o medo de
novas prisões.
Peniche, 20 de Abril de 2019
António Barreto
Encorajado pelo PC e coadjuvado por este e alguns camaradas, Otelo reorganiza
o Movimento, formando uma nova Comissão Coordenadora. Dela fazem parte, Hugo
dos Santos, Melo Antunes e Pinto Soares. Estes oficiais foram os canais do PC
no Conselho dos Vinte. Hugo dos Santos fez o papel de ingénuo útil, dado o seu
perfil político de direita.
Pressionados pelos comunistas, que ameaçavam desencadear uma extensa
ação de terrorismo no dia 1º de Maio visando o assassinado de algumas
personalidades da vida política e social e ações de terrorismo indiscriminadas,
os conjurados escolheram o dia 25 de Abril para o levantamento, bem como os
respetivos chefes operacionais; Hugo dos Santos, Jaime Neves, Miquelina Simões
e Otelo Saraiva de Carvalho. Tal como no 16 de Março, escasseiam as tropas
aderentes.
Apesar de ter conhecimento destas movimentações e dos reiterados avisos
do Chefe de Estado, o Governo não tomou qualquer diligência, supostamente, em
virtude da via informal da informação que lhe ia chegando. Na verdade não seria
assim tão informal, já que um funcionário superior da DGS, pelas 18 horas do
dia 24, informou o Ministro da Defesa Nacional, dr Silva e Cunha, de que na
madrugada seguinte sairia um movimento militar. Este, não só não acreditou,
como ameaçou de prisão o funcionário, poe duvidar da integridade das Forças
Armadas. Atitude idêntica teve o Ministro do Exército, jogando bridge até cerca da uma hora da
madrugada seguinte.
Na madrugada de 25 de Abril dirigem-se para Lisboa algumas companhias -
num total de oficiais entre 160 a 200, incluindo os de complemento, e cerca de
2000 soldados - mal equipadas; reduzidos veículos blindados, a maior parte das
armas sem munições e grande parte dos soldados, recém-recrutados. Apesar disso
e da fragilidade do plano estratégico - as forças não aderentes ou fiéis ao
Governo, salvo exceções, não foram neutralizadas, nem se ocuparam os pontos-chave
-, graças à adesão da população, o movimento foi um sucesso.
A falta de preparação das forças revoltosas foi tal que pareciam contar
com a passividade das forças leais ao Governo. Entre estas contavam-se o
Regimento Motorizado de Lanceiros 7, a Guarda Nacional Republicana, todos os
efetivos da DGS, e a maioria dos efetivos da Força Aérea e da Armada. Os
sucessivos pedidos de autorização de intervenção, do diretor da DGS a Marcello
Caetano, prometendo o domínio da situação até às 17 horas, foram recusados, com
a desculpa de se pretender evitar um banho de sangue. A passividade de Marcello
Caetano quebra o moral dos ministros enquanto a Força Aérea e Armada, aderem ao
Movimento. FPA referencia a revista “insuspeita” espanhola Índice, a qual, por
sua vez, assegura a existência de gravações das conversas entre a DGS e
Marcello Caetano, ao longo do processo.
A ideia prevalecente após o 16 de Março, de que a motivação do 25 de
Abril fora a de libertar o país de uma ditadura e instituir uma democracia
pluralista, escondia a verdadeira, a da derrota militar. Com a alteração do
comando do Movimento na sequência do 16 de Março, o objetivo oculto, controlado
pelos elementos afetos ao Partido Comunista, foi o de instaurar uma ditadura
marxista no país.
A disputa internacional entre o bloco euro-americano, por um lado, e o
bloco russo, por outro, pelos territórios ultramarinos portugueses, acabou com
a vitória destes. O PC tomara as rédeas da revolução adaptando-se às
circunstâncias, recuando quando necessário e avançando quando possível. Tal
como hoje, em 2019. Em 11 de Outubro de 1974, Otelo Saraiva de Carvalho, dá uma
entrevista ao “Jornal do Brasil”, na qual disse: “Sim, o General travava o
Movimento, tornava difícil o funcionamento da Revolução. Era preciso afastá-lo.
Mas é justo dizer que não era o General que descumpria o Movimento do MFA.
Acontece que antes do 25 de Abril os oficiais do Movimento acertaram o Programa
com o General, porque precisavam dele. Então foram feitas muitas concessões, o
Programa não saiu como queríamos. Os factos, porém demonstraram que estávamos
certos, que não devíamos ter concedido. O que estamos fazendo é uma volta às
inspirações iniciais do Movimento, o Programa como era antes, principalmente na
descolonização e na política antimonopolista.” Otelo foi um dos “ingénuos úteis”
do Movimento, usados pelo PC; uma velha tática que subsiste, quatro décadas
depois.
O Comandante Jorge Correia Jesuíno, Ministro da Comunicação Social do
Governo de Vasco Gonçalves, camarada, admirador e colaborador do Almirante Rosa
Coutinho, aderente tardio ao MFA, chegou a referir publicamente o
arrependimento deste por ter-se comprometido com o pluralismo partidário; só o
PC revelara a competência a rapidez e a pontualidade de que o governo
Gonçalvista carecia para o exercício da governação! Todos os outros, PS, PPD e
CDS, se mostraram de tal modo ineficazes que o seu contributo era considerado
dispensável. Rosa Coutinho chegou mesmo a defender a constituição do MFA em
partido representante de toda a sociedade civil! A disputa partidária pelo poder
incomodava os militares, que viam preteridos os objetivos considerados
prioritários. Tal era o empenho do MFA na democracia pluralista.
O lobby euro-americano,
decisivo no sucesso do 25 de Abril, acabou ultrapassado, sem o perceber, pela
estratégia do Partido Comunista. Com efeito, as diligências realizadas pelo
General Spínola no final de Março, asseguraram os apoios institucionais da
comunidade ocidental, nomeadamente dos setores financeiro e político, ao
programa do Movimento dos Capitães, que atualizara. D. António Ferreira Gomes defende
o plano de Spínola na Santa Sé, obtendo a aprovação do Santo Padre. Thorsten Andersan, Diretor da Lisnave, emissário
do General, através do célebre clube Bilderberg,
reunido em Megève em França entre 19
e 21 de Abril, obtém o acordo geral, incluindo o do Secretário-Geral da NATO Joseph Luns. Finalmente, graças ao
prestígio do General Spínola, estava aberta a via “verde” para o golpe
revolucionário; Fundeada no Tejo, na véspera do 25 de Abril, uma esquadra da
NATO dissuade os “ultras” - generais afetos ao Governo - de uma ação
contrarrevolucionária. Previamente o Movimento dos Capitães tinha elegido um
comité de acompanhamento de Spínola, constituído por Otelo, Garcia dos Santos,
Lopes Pires e Vitor Crespo.
Custa a crer como tantas altas individualidades se deixaram enganar pelo
Partido Comunista! O caso é que, agentes ao serviço de Moscovo, que colaboravam
secretamente com o comandante Conceição e Silva na Comissão de extinção da DGS,
apoderaram-se de todos os documentos da NATO e muito outros altamente
confidenciais. Quer Spínola, quer os Capitães, quer a comunidade ocidental,
focados no derrube do regime, não se aperceberam das manobras subversivas dos
comunistas, ou desvalorizaram-nas.
Ofuscadas pelos mitos dos imperialismos, as populações dos pequenos
países, especialmente urbanas, acabam por perder o sentido dos seus legítimos
interesses, bem como a capacidade de avaliar as situações concretas e dos que
falam em seu nome. Para FPA o 25 de Abril é exemplo pungente desta realidade ao
propiciar a ascensão de uma classe dirigente medíocre, ignorante e imbecil. Um
fenómeno que pode explicar-se pela identificação das massas com aquelas
classes.
FPA, arrasa os membros do primeiro Governo provisório referindo os casos
de Vasco Gonçalves, medíocre oficial de engenharia e desequilibrado mental, do
comandante Jesuíno, oficial de baixa patente na Marinha, inteiramente
desconhecido nesta, do major Melo Antunes, oficial que nem pelo saber nem pelo
sabre se distinguira, cujo plano económico de emergência fracassou e a quem foi
atribuído, sem causa, a pasta dos estrangeiros, generalizando a todos os
restantes membros do Governo: “em todos os postos de importância da vida do
país se encontram militares medíocres, porteiros, delinquentes, lésbicas
agressivas e prostitutas diplomadas”. Uma realidade cuidadosamente escondida da
opinião pública internacional pelos que a controlavam na medida em que servia
os seus interesses. A única vítima digna de lástima, terá sido o Povo
Português.
Portugal, consciente da sua dignidade, dos imperativos da sua cultura e
da sua História e da importância da sua posição na sobrevivência do mundo livre,
não quis enveredar pela via dos interesses e da chantagem bipolar, adotando,
honradamente, a defesa dos princípios. “…a maioria dos dirigentes políticos dos
dirigentes do Ocidente, não são, hoje, mais que marionetes nas mãos dos grandes interesses financeiros,
indiferentes à defesa da nossa civilização, jogando com os interesses e a vida
dos povos do mundo, com a frieza e a indiferença com que conduzem os seus
negócios. Portugal foi vítima desses interesses e continuará a sê-lo se não
assumir, após esta dolorosa experiência, o comado da sua própria história.”
Foto: Batalha de Alcácer QuibirPeniche, 20 de Abril de 2019
António Barreto
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