"Muita da miséria política da Europa do século XX adveio de um esforço secular, contemporâneo, de chegar a um absoluto político. Na verdade, uma das coisas que tornou o marxismo tão semelhante a uma religião não foi apenas a sua dependência de textos sagrados e de uma progressão linear de profetas, mas o hábito da cisão e da guerra inter-religiosa. A luta para ser detentor da chama mais autêntica e o mais genuíno interprete da fé foi uma das suas facetas atraentes, bem como uma das suas eventuais fraquezas. Mas o sonho de Marx e, a partir de Marx os sonhos do comunismo e do socialismo, foram as tentativas mais sinceras do seu tempo para apresentar e pôr em prática uma teoria de tudo. Os incontáveis escritos, panfletos e evangelismos em todos os países da Europa foram uma tentativa mais de sonhar um sonho com significado, capaz de solucionar tudo e tratar dos problemas de todos. Foi, como T. S. Eliot notavelmente descreveu, um esforço para "sonhar com sistemas tão perfeitos que ninguém precisará de ser bom".....
...E tudo o que vinha da Rússia e do Bloco de Leste - as histórias que eram tão contínuas e similares que apenas poderiam ser descartadas pelos crentes mais beligerantes - mostrava que, se o comunismo tinha sido um pesadelo para o mundo, fora uma catástrofe para o povo que afirmava governar....
....Mas os milhões e milhões de cadáveres, de vidas desperdiçadas - vivas ou mortas - que o comunismo deixara como testemunho da sua principal realização, eram suficientes para fazer parar qualquer crente são. Restaram alguns verdadeiros crentes, como o historiador britânico Eric Hobsbawm, mas o mundo em geral reagiu, em relação a eles, com a incredulidade reservada a alguém que, erguido sobre uma pilha de cadáveres, prometesse que, com mais algumas mortes, poderia endireitar tudo."
(Douglas Murray, A Estranha Morte da Europa)
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