Evangelhos da Paixão
Deposição de Cristo, 1525, Correggio)
Texto descoberto no Alto Egipto
em Akemim em 1886, no túmulo de um monge, de origem síria e datado do ano 130.
É o mais antigo texto apócrifo da Paixão; hostiliza os Judeus e atenua a culpa
de Pilatos bem como o sofrimento de Jesus.
Quando eles levantaram a cruz, nela inscreveram: “Este é o rei de
Israel.
Depuseram as suas vestes diante dele e dividiram-nas entre si tirando à
sorte.
Um destes malfeitores admoestou-os nestes termos: “Os nossos crimes
mereceram-nos este suplício, mas ele, que é o salvador dos homens, que mal vos
fez ele?”
Eles, cheios de irritação, ordenaram que não se lhes partisse as
pernas, com receio que a morte pusesse fim aos seus sofrimentos.
Era meio-dia e a escuridão estendeu-se por toda a Judeia. Eles estavam
inquietos: tinham medo que o Sol se pusesse enquanto ele ainda vivia. A sua Lei
diz, com efeito, que o sol não se deve pôr sobre um justiçado.
E um dentre eles disse: “Dai-lhe de beber fel misturado com vinagre”.
Prepararam a bebida e deram-lha.
Interessante esta preocupação de
limitar o sofrimento dos condenados, ao sol-pôr!
E o Senhor gritou dizendo: “Força, ó minha força, tu me abandonaste!”
Tendo falado, foi elevado.
Nesse instante, o véu do Templo de Jerusalém rasgou-se em dois.
Então eles retiraram os cravos das mãos do Senhor e estenderam-no no
chão. E toda a terra tremeu e houve um grande pavor.
Depois o Sol tornou a brilhar: era a nona hora.
…
Nem a história
nem a arte renascentista italiana faz justiça a este homem bom que foi José de
Arimateia.…
José (de Arimeteia) tomou o Senhor, lavou-o, envolveu-o num lençol e
levou-o para o seu próprio túmulo, chamado jardim de José.
Então os Judeus , os Anciãos e os Sacerdotes, conscientes do mal que
tinham feito a si próprios, começaram a bater com a mão no peito e a dizer: “Ai
das nossas faltas! O juízo aproxima-se, e o fim de Jerusalém."
Os Escribas, os Fariseus e os Anciãos reuniram-se entre eles, porque
tinham compreendido que todo o povo murmurava e batia com a mão no peito,
dizendo: “Se estes sinais extraordinários se deram pela sua morte, vede como
ele era justo!”
E confrangedor ver, que, então, como
hoje, a multidão não tem capacidade de avaliar, por si, os atos de outrem, necessitando de sinais
místicos ou de entidades consideradas “iluminadas”. A autêntica génese de todos os despotismos.
Petrónio foi o centurião enviado,
com um corpo de soldados, por Pilatos, a pedido dos Anciãos para guardar o
túmulo de Jesus, prevenindo o eventual roubo do seu corpo pelos seus discípulos,
o qual poderia ser atribuído à Ressurreição ao terceiro dia, anunciada por
Jesus, afetando a credibilidade daqueles. Contudo, coisas extraordinárias aconteceram,
vozes e um homem, vindos dos céus, entrando este no sepulcro, de tal forma que,
os guardas, assustados correram a contar a Pilatos o que tinham visto.
Pilatos respondeu: “Eu estou puro do sangue do Filho de Deus. Sois vós
que o haveis querido.”
Maria Madalena, a discípula do
Senhor, foi, com as suas amigas ao túmulo do Senhor cumprir os seus deveres
conforme os costumes, encontrando o túmulo aberto, com um jovem , belo e de
veste deslumbrante, sentado a meio, que as informou da ressurreição de Jesus,
tendo-as amedrontado e provoca a sua fuga, apavoradas.
Pedro e os Discípulos, Judas
tinha morrido, choraram desolados, seguindo para suas casas. Simão Pedro e
André, pegaram nas redes e fizeram-se ao alto-mar.
(Continua)
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