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domingo, 14 de novembro de 2021

A Batalha de Zama

 A Batalha de Zama 

      “Na cauda de tudo, atrás dos carros das máquinas de guerra e das últimas filas dos esquadrões, desenrolavam-se as récuas de camelos e dromedários, mugindo rouca e longamente, carregados de bagagens, de vitualhas, de munições, com colares de guizos e chocalhos ao pescoço; e por entre as récuas insinuava-se a multidão de mulheres de mercenários, de todas as formas, de todas as cores, de todas as idades: umas trigueiras como tâmaras maduras, outras da cor esverdeada das azeitonas, outras amarelas como cidras; vendidas umas pelos marinheiros, roubadas outras às caravanas, tomadas nos saques das cidades, amadas enquanto moças e belas, deitadas para o monturo da imundice depois de terem servido às orgias do exército inteiro, para irem morrer pelas margens dos caminhos com as bestas de carga abandonadas. Eram númidas vestidas de pele de dromedário, cirenaicas de sobrolhos pintados a azul acocoradas sobre esteiras tocando liras e cantando, siracusanas com placas de ouro nos cabelos, lusitanas de colares de conchas, gaulesas vestidas de peles de lobo, líbias montadas em burros, negras do Sudão e dos confins da África incógnita - esperando todas que a batalha terminasse para começar a orgia e se entregarem nos braços dos soldados ensopados em sangue. Por entre as mulheres estavam os velhos, as crianças, os estropiados, os coxos detritos das batalhas, resíduos miseráveis da guerra, curando as suas chagas, com um resto de armadura amolgada por pedras de catapulta, com as barbas e os cabelos espessos empastados em lama, com cotas de malha despedaçados através de cujos rasgões se viam as cicatrizes mal fechadas de feridas horrendas que os cães lambiam caridosamente. Os coxos abordoavam-se aos cotos das lanças partidas.”


Batalha de Zama

Peniche, 14 de Novembro de 2021

António Barreto

Créditos:

“A História da República Romana” de Oliveira Martins

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