Esta é uma medalha comemorativa dos 50 anos do meu curso elementar de Máquinas na Escola Náutica, atribuída igualmente a todos os alunos de então. Um evento organizado por alguns colegas com o patrocínio da Escola Náutica Infante Dom Henrique e que teve lugar no último sábado nas suas instalações de Paço D’Arcos.
É espantoso como, num
período social e economicamente difícil, em tão pouco tempo, cerca de dois
anos, se estabeleceu entre todos nós, independentemente da especialidade,
máquinas, ponte, comissariado ou telegrafia, tão persistente vínculo de amizade
e camaradagem, nalguns casos fortalecido pela vida marítima conjunta que se
seguiu.
No que me diz
respeito, tive oportunidade de rever e abraçar alguns grandes amigos desse
tempo, daqueles que estão sempre connosco e que não via há 50 anos. Igualmente
gratificante foi rever e refrescar a memória relativamente a todos os outros.
Desculpem a
imodéstia, mas, somos gente boa, gente de coração nobre, com espírito de
camaradagem e de missão, gente com talento e memória. Desta "fornada"
saíram Comandantes, Chefes de Máquinas, Engenheiros, Médicos, Advogados, Armadores,
Empresários - grandes, médios e pequenos - ciclistas, desportistas e artistas.
Recordo um dos colegas que foi de bicicleta a Roma para cumprimentar o Papa e
outro, o Jorge Mendes, da "fornada" seguinte", que conquistou o
seu lugar na cena musical nacional ao vencer o Festival da Canção de 1987 com o
belíssimo tema “Neste Barco à Vela”, integrando o Duo Nevada, que acaba de
editar o seu novo trabalho, “Ruas de Mar”, com temas originais, e que nos brindou
com uma bela atuação.
Foi uma homenagem
bonita e comovente onde os que “já partiram” não foram esquecidos. Naquele
minuto de silêncio, de pé, recordei o colega Melo, o reguila de Alfama, gingão,
irreverente, cordial e descontraído, que me convenceu a comprar a primeira
viola, por 1750$00 (cerca de €8,50), no João Pedro Grácio, ali mesmo frente à
prisão do Limoeiro onde tinha a sua oficina. No que me diz respeito, ficou
fortalecido o vínculo afetivo aos navios, ao mar e aos meus queridos colegas.
Deixei os navios e o mar há cerca de 40 anos, mas sou e serei sempre um homem
do mar. Um entre muitos, um entre todos os que estiveram presentes.
Do fundo do coração,
agradeço à minha Escola ter-se lembrado de nós e aos colegas Mota, Soares e
João, a persistência, a paciência, com que, durante meses, reuniram a
"tripulação" dispersa e organizaram esta singela e comovente
homenagem. É preciso ter os "porões" cheios de amizade para o fazer.
Aqui em Peniche ou
em Buarcos, a minha porta e o meu coração estarão sempre prontos a receber-vos.
.
Obrigado
Peniche, 25 de Outubro de 2021
António Barreto
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