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sábado, 30 de outubro de 2021

Escola Náutica e Camaradagem

    Esta é uma medalha comemorativa dos 50 anos do meu curso elementar de Máquinas na Escola Náutica, atribuída igualmente a todos os alunos de então. Um evento organizado por alguns colegas com o patrocínio da Escola Náutica Infante Dom Henrique e que teve lugar no último sábado nas suas instalações de Paço D’Arcos.

    É espantoso como, num período social e economicamente difícil, em tão pouco tempo, cerca de dois anos, se estabeleceu entre todos nós, independentemente da especialidade, máquinas, ponte, comissariado ou telegrafia, tão persistente vínculo de amizade e camaradagem, nalguns casos fortalecido pela vida marítima conjunta que se seguiu.

   No que me diz respeito, tive oportunidade de rever e abraçar alguns grandes amigos desse tempo, daqueles que estão sempre connosco e que não via há 50 anos. Igualmente gratificante foi rever e refrescar a memória relativamente a todos os outros.

   Desculpem a imodéstia, mas, somos gente boa, gente de coração nobre, com espírito de camaradagem e de missão, gente com talento e memória. Desta "fornada" saíram Comandantes, Chefes de Máquinas, Engenheiros, Médicos, Advogados, Armadores, Empresários - grandes, médios e pequenos - ciclistas, desportistas e artistas. Recordo um dos colegas que foi de bicicleta a Roma para cumprimentar o Papa e outro, o Jorge Mendes, da "fornada" seguinte", que conquistou o seu lugar na cena musical nacional ao vencer o Festival da Canção de 1987 com o belíssimo tema “Neste Barco à Vela”, integrando o Duo Nevada, que acaba de editar o seu novo trabalho, “Ruas de Mar”, com temas originais, e que nos brindou com uma bela atuação.

   Foi uma homenagem bonita e comovente onde os que “já partiram” não foram esquecidos. Naquele minuto de silêncio, de pé, recordei o colega Melo, o reguila de Alfama, gingão, irreverente, cordial e descontraído, que me convenceu a comprar a primeira viola, por 1750$00 (cerca de €8,50), no João Pedro Grácio, ali mesmo frente à prisão do Limoeiro onde tinha a sua oficina. No que me diz respeito, ficou fortalecido o vínculo afetivo aos navios, ao mar e aos meus queridos colegas. Deixei os navios e o mar há cerca de 40 anos, mas sou e serei sempre um homem do mar. Um entre muitos, um entre todos os que estiveram presentes.

   Do fundo do coração, agradeço à minha Escola ter-se lembrado de nós e aos colegas Mota, Soares e João, a persistência, a paciência, com que, durante meses, reuniram a "tripulação" dispersa e organizaram esta singela e comovente homenagem. É preciso ter os "porões" cheios de amizade para o fazer.

   Aqui em Peniche ou em Buarcos, a minha porta e o meu coração estarão sempre prontos a receber-vos.

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Obrigado

Peniche, 25 de Outubro de 2021

António Barreto

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