República
Romana
César
e a construção europeia
“ No ano de 703 - da era romana; 50 a. C. -, pois, a pacificação
era geral. No seguinte César ocupou-se em organizar os seus reinos. Deu por
toda a parte o mando às aristocracias sempre fiéis aos romanos; confiscou e
distribuiu tesouros e terras; impôs o latim como língua oficial, sem bulir
todavia na religião nem nos costumes, porque bem sabia ser suficiente alterar a
linguagem para modificar os homens; fez cidadãos romanos a muitos
indivíduos para criar assim um fermento de ambição e inveja; mandou
circular a moeda romana; e preparando a romanização rápida da Gália, juntando-a
à Espanha já romanizada, fez para o Ocidente, latinizando-o, o que Alexandre
fizera helenizando o Oriente. Alargou a área da civilização indo-europeia à
Europa ocidental bárbara. – Carlos Magno alargou-a depois à Germânia; por via
da Rússia estendeu-a mais tarde ao mundo eslavo e à Sibéria; e desde o século
XVI da nossa era, por fim, essa civilização soberana invadiu a América
fazendo-a europeia.
A conquista da Gália demorou por quatro
séculos o choque inevitável do mundo latino e do germânico, levantando entre ambos,
aquém da fronteira do Reno, as cidades e cantões da Gália romanizada. Os
povos celtas não foram exterminados à moda das conquistas dos orientais:
outra era a tradição romana desde os tempos mais remotos. A Gália e a Espanha
foram assimiladas. Decerto houve horrores nas batalhas e crueldades na
conquista, mas nem os gauleses foram em geral escravizados nem as suas terras
confiscadas. Se ficaram pagando um tributo, pagavam antes pesados impostos aos
governos das suas tribos e cantões. Atrofiada a elaboração da
nacionalidade comum, não podiam lamentar a perda de uma coisa que ainda não
tinham conseguido definir politicamente, pois a independência local
conservavam-na na organização municipal, a liberdade religiosa manteve-se, e
quando os gauleses comparassem a vida atribulada de discórdias que antes
levavam, com a imensa majestade da paz romana, no seio da qual viviam
sossegados, felizes e fartos, deviam abençoar e abençoavam de facto o presente,
sem saudades pelo passado.”
Júlio César
Créditos: História da
República Romana, de Oliveira Martins
O negrito e o itálico são
de minha edição.
Peniche, 20 de Agosto de
2022