O 25 de Abril Visto
da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José
António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em
vésperas as primeiras eleições presidenciais
…Quando Portugal dispõe, na
América, de uma das maiores e mais ricas colónias do mundo - o Brasil - são
empresários portugueses que controlam, cá dentro, a maior indústria portuguesa
do tempo: os vinhos do Porto. …(JAS)
É verdade. Foi pela 2ª metado do século XVIII, por ocasião da
pré-revolução industrial em que a Inglaterra protagonizava um tremendo
desenvolvimento da indústria da tecelagem, com envolvimento da sociedade civil
e da Coroa – surgiram então as primeiras PPP na construção e desenvolvimento da
rede viária e fluvial para escoamento da produção do carvão e dos têxteis,
culminando na mecanização das máquinas de tecer com máquina a vapor, com a
constituição das primeiras fábricas e consequente migração dos camponeses para
as cidades – que a transformaria no maior produtor mundial. Foi neste contexto
que Portugal – através do Marquês de Pombal que haveria de criar a primeira
região produtora demarcada do mundo – do Douro, que acabaria por resultar no
“Massacre dos Taberneiros”-, estabeleceu um contrato de comércio com a
Inglaterra mediante o qual Portugal lhes compraria todos os têxteis de que
necessitasse e lhes venderia todo o vinho que produzisse, em regime de
exclusividade. O célebre economista David Ricardo haveria de defender os
benefícios mútuos deste contrato calculando a razão de troca em 3 para 5; por
cada unidade investida, Portugal ganharia três e a Inglaterra cinco. Aqui
reside a desvantagem lusa, que haveria de conduzir ao empobrecimento do país ao
excluir economias que possibilitariam melhores condições de comercialização. A
verdade é que, por esta época, a Inglaterra já era o principal beneficiário do
comércio do império colonial português; pelos fretes das mercadorias e
policiamento das frotas, bem como pelos serviços de seguros das mercadorias,
limitando-se Portugal a cobrar os direitos alfandegários e as taxas portuárias,
sem intervenção direta na exploração colonial. Após a vitória sobre a célebre
Armada Invencível, com a destruição e afundamento de numerosas naus
portuguesas, A Inglaterra dominou os oceanos até à I GM, sendo então superada
pelos EUA no domínio marítimo.
…Significativamente, há hoje quem
defenda que Portugal morreu (deixou de ser viável) como país independente, na
medida em que, como disseste, deixou de dispor de “válvulas de escape” –
situa-se neste campo, por exemplo a União Ibérica, mas não só…..(JAS)
….Neste momento, na Europa,
parece de facto em vias de constituição
uma nova força – que seria formada por partidos comunistas, socialistas e mesmo
sociais-democratas, quer de Leste quer de Oeste cujo combate se travaria em
duas frentes: por um lado contra o conservadorismo de Moscovo e o seu papel de
“Estado-guia”; por outro, contra a hegemonia americana na Europa e os partidos
conservadores do Ocidente (como as Democracias Cristãs, os Conservadores ou os
Liberais)….(JAS)
Esta previsão deve ter-se, pelo menos em grande parte, concretizado,
considerando o asfixiante centralismo que a União Europeia impõe aos Estados
membros, transformando os seus governos em meros agentes executivos das suas
intermináveis diretivas, sobrepondo estes à sociedade Civil, condicionando a
liberdade económica ao “planeamento central” conforme a visão do mundo da elite
constituinte do Conselho Europeu, imiscuindo-se, cada vez mais, em cada detalhe
da vida dos cidadãos. Uma clara herança do extinto totalitarismo soviético,
que, sobretudo a partir de 1989, deverá ter espalhado na Europa, algumas
“metástases”.
Peniche, 25 de Outubro de 2018António J. R. Barreto
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