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sábado, 26 de dezembro de 2020
Human Caused Global Warming: The Biggest Deception in History
sábado, 12 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (V)
Economia
A análise económica do mandato da administração Trump deve dividir-se em dois períodos, o pré-covid - de 2016 até março de 2020 - e o pós-covid - ainda em curso.
A derrocada económica, vaticinada pelos detratores de D. Trump, resultante da sua ascensão à presidência dos EUA, não só não se verificou, como manteve ou superou os indicadores do mandato anterior, no primeiro período. No segundo período verificou-se o maior colapso económico dos últimos 80 anos, nos EUA.
Vejamos o que nos diz a análise da BBC Brasil realizado em 27 de Setembro de 2020, a partir dos relatórios do Escritório de Análise Económica dos EUA:
O crescimento económico médio anual dos primeiros três anos do mandato de D. Trump foi de 2,5 % contra 2,3 % dos últimos três anos do mandato anterior, sendo que, neste, em meados de 2014 se verificou um crescimento de 5,5 %. Em abril, maio e Junho verificou-se uma contração superior a 30 %; três vezes superior à que se verificou em 1958! Se tal ocorreu apesar da recusa de D. Trump em adotar o confinamento geral, não custa supor que teria sido bem pior se tivesse feito o contrário. Contudo, a recuperação económica tem ocorrido com grande rapidez, estimando-se, no final do ano, uma retração do PIB próxima dos 3 %! Cerca de 1/3 da que se verifica, em média, na Europa, para o ano em curso. Certo também é que, nos últimos 50 anos, houve períodos de maior crescimento do que o que ocorreu na fase pré-covid.
Quanto aos mercados financeiros, nomeadamente S&P 500, apesar da queda abruta do início de 2020, apresenta uma valorização de cerca de 14 % neste ano até à data e um total de 83 % desde 2016. Já o desempenho do Nasdaq é bem superior, cum uma valorização em 2020 e atá à data de cerca de 30 % e de 171 % desde 2016! Um desempenho sem paralelo na Europa, com todas as bolsas negativas em 2020, enquanto a oriente os índices são os índices chineses que mais se aproximam: Nikkei (13,1 % ytd), CSI 300 (24,1 % ytd), Kospi (24,2 % ytd), Sensex (9,3 % ytd), e BIST 30 (5,3 % ytd). Tal desempenho revela que os mercados confiam nas ideias de D. Trump.
Relativamente à taxa de desemprego, de 3, 5 % antes da pandemia, era a mais baixa dos últimos 50 anos. Mas é verdade que nos últimos três anos de mandato de Obama foram criados 7 milhões de postos de trabalhos enquanto nos primeiros 3 anos do mandato de Obama foram criados “apenas” 6,4 milhões. Com a pandemia a taxa de desemprego disparou para 14,7 % em abril - a mais alta desde a Grande Depressão de 1930 - tendo sido destruídos, num só mês, cerca de 20 milhões de postos de trabalho, anulando uma década de criação de emprego. Em agosto porém, a taxa de desemprego já estava em 8,4 %, confirmando a rapidez da recuperação económica.
Os salários médios por hora no mandato de D. Trump mantiveram a tendência de subida iniciada no primeiro mandato de Obama, com uma média anual de 2,1 % naquele e de 2,4 % deste. O efeito da pandemia provocou um aumento abruto dos salários devido ao desemprego dos trabalhadores de baixas qualificações, voltando a baixar logo que se iniciou a recuperação económica, com o regresso daqueles ao trabalho.
Apesar de ter sido em 1966 sob o mandato de Lyndon B. Johnson que se verificou a maior redução de pobres num só ano - 4,7 milhões de pessoas -, contra 4,2 milhões em 2019, é verdade que foi no mandato de D. Trump que se atingiu o mais baixo índice de pobreza dos últimos 50 anos, 10,5 %, desconhecendo-se ainda a evolução resultante da crise pandémica. Sucede porém que se verifica grande assimetria étnica no que diz respeito à população pobre, com cerca de 18,8 % para americanos negros e de 7,3 % para americanos brancos não latinos.
Conclusão
Donald Trump é um outsider, um corpo estranho na cena política, rejeitado até por alguns setores do seu próprio partido. Oriundo do mundo empresarial representa uma reação inorgânica da sociedade civil contra o status quo partidário vigente. É visto como uma ameaça pelo espetro político estabelecido, sobretudo pelo setor progressista, este divorciado do país profundo. Apesar do seu estilo algo patético, por vezes grotesco, com uma linguagem imprudente, direta às vezes incendiária, D. Trump tem uma ideia para o país assente nos valores tradicionais, na família, na moral cristã, na segurança, no trabalho e na Pátria. Relativiza a vertente imperialista dos EUA iniciada em 1945, privilegia o comércio internacional baseado no equilíbrio das trocas, defende maior cooperação ativa dos aliados militares naturais, abomina as dinâmicas políticas e económicas prevalecentes assentes na teoria do Aquecimento Global, empenha-se na causa ambiental privilegiando o gás natural e de xisto, denuncia e combate frontalmente os promotores do terrorismo global. A apoiá-lo tem uma vasta população que já não se sente representada pelos partidos tradicionais. As notícias de fraude eleitoral no processo ainda em curso, a confirmarem-se, significarão, o início do último estertor das democracias representativas multipartidárias e o advento de novas ditaduras ou de regimes democráticos de representação direta alcançáveis a partir dos meios proporcionados pelas novas tecnologias tal como revelam alguns estudos do MIT (Massachusetts, Institute Technology).
Fim.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (IV)
As políticas
D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da
família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do
mercantilismo.
Imperialismo
Anti-globalista
defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante
verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a
acusar D. Trump de, com o seu
nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço
geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É
certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído
decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que
o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e
ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal
ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o
Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado
em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -,
mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o
maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da
época, demonstrou então como ambas as
partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a
Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado
traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua
industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista
que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por
impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as
astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo
ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente
cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do
PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de
D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure
inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e
cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se,
afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente
desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização
empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de
interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um
veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e
controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados
pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas
e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida
aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.
Aquecimento Global
Crítico do Acordo de
Paris, D. Trump deu prioridade à
energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os
objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se
no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações
climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2
na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento
de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro
questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a
implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na
prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que
são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores
produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores
de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração
retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo
do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos
EUA - ocorrida sob a presidência de Obama
- os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda
para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica
está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta
aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de
competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de
produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental,
propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz
socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas.
Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim
do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela
História.
Imigração
Contrário à política
de fronteiras abertas D. Trump proibiu
a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas -
com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de
matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico
característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da
Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de
habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem
mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura
demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica.
O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das
américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD -
contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais.
Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a
cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca
de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá
ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a
taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México,
o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados
Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas
guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por
outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as
cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um
milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com
mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente
de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que
os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu
favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A
demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do
ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos
cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos
imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião
familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas,
sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais,
incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou
a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas
de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.
Peniche 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (III)
A supressão dos privilégios da aristocracia e do clero, característicos das monarquias, pelos regimes republicanos - fundados na tripla utopia, liberdade, igualdade e fraternidade -, não obstou à emergência de novas castas e correspondente cortejo de privilégios. Castas relacionadas com a esfera partidária, judicial, militar, económica e do alto funcionalismo público. A desigualdade começa aqui, desacredita a República e a democracia, perpetua-se e tende a agravar-se com as sucessivas gerações. A casta partidária, geralmente instalada na administração pública e com acesso às instâncias de poder, atribui-se a exclusividade da representatividade política. A ascensão política extemporânea de D. Trump, um outsider pragmático, financeiramente independente, oriundo da sociedade civil, vinculado à defesa dos interesses da América profunda, contra os poderes instalados, fez soar o alarme, não só entre o partido oponente como no interior do seu próprio partido. A sua lógica fora do filtro partidário suscitou compulsivas reações hostis radicadas no medo da perda de privilégios e de poder. A sua figura grotesca, o ar desajeitado, o discurso meio desarticulado e um passado social e económico polémico, forneceram pasto abundante à maledicência dos adversários. Ao bom estilo socrático, a uma figura caricatural, diabólica, está vedada a produção de boas ideias. Como tal nem vale a pena discuti-las. Apenas afastar a criatura para bem longe, catalogando os seus apoiantes com a habitual parafernália de epítetos vexatórios; estúpidos, incultos, ignorantes, atrasados, etc..
O Declínio dos Candidatos
Um breve olhar pelos Presidentes dos EUA dos últimos 50 anos permite constatar um declínio dos respetivos perfis. Neste ato eleitoral chegam ser patéticas as mútuas acusações de incompetência dos candidatos, inclusive entre membros dos respetivos partidos. Se D. Trump é considerado rude e boçal, J. Biden é apelidado de senil, taralhouco. Nenhum destes classificativos seria aplicável a Ronald Reagan, Bill Clinton, George H. W. Bush ou Obama. Parece haver um estranho mecanismo na democracia americana, a confirmar a velha máxima de Adam Smith, segundo o qual a má moeda afasta a boa moeda. Mais uma vez trata-se de uma característica de quase todas as democracias, visível em Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Itália onde se tem assistido a fenómenos idênticos, seja emergindo do seio dos partidos de poder, seja na sequência da emergência de novos partidos. Talvez o jogo democrático tenha resvalado para uma espécie de aviltamento que afasta as verdadeiras elites da causa pública. E isso constitui uma ameaça às democracias.
Forma e conteúdo
Diz o bom povo; “As aparências iludem” e “quem vê caras não vê corações”, aforismos que permanecem atuais em qualquer vertente da atividade humana e em particular na política, essa arte simultaneamente nobre e aviltante da persuasão. A forma precede o conteúdo. Vê-se por todo o lado e em todo o lado. Viu-se exuberantemente, exageradamente, despudoradamente, com D. Trump, nos Estados Unidos, mas também em Portugal. A sua figura meio grotesca, meio patética, a sua retórica rudimentar, direta, proporcionaram vasto campo de enxovalhamento pessoal. Nenhuma boa ideia poderia sair de figura tão repugnante. Um conceito puramente nazi. Choveram acusações de todo o género; de corrupção, de traição ao país, de racismo, de xenofobia, de homofobia, de machismo, de violação, etc. etc. Pelo Frankenistein que ocupava a Casa Branca todas as monstruosidade eram praticáveis e prováveis. Raramente se encontrava uma análise crítica exaustiva ao seu programa de governo nos meios de comunicação social. Especialmente em Portugal. A tática é simples e recorrente; desacreditando-se a pessoa desacreditam-se as suas propostas evitando-se o confronto de ideias cujo resultado pode ser o contrário ao pretendido.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
sábado, 5 de dezembro de 2020
USA - Eleições 2020 (II)
O quarto poder
Há um consenso acerca
da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada
como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em
democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de
debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a
importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação
de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e
publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso
que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão
evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden
pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a
comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social,
maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo
o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não
terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi
desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma
democracia desvirtuada não é democracia.
A tribalização política
A degradação do
diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa
e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se
nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo
oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente,
dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana
e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta
democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA
mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou
morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.
O Poder da Rua
O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se, alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade do ativismo destas.
Peniche, 6 de Dezembro de 2020
António Barreto