Barão de Casal e
o Massacre de Braga
José António de Barros Abreu
Sousa e Alvim, barão de Casal, nascido no Minho, veterano da Guerra
Peninsular
- combateu
contra os franceses
em Portugal, Espanha e França -
da Campanha de Montevideu - integrou
a Divisão de Voluntários Reais do Segundo
Regimento de Cavalaria onde
participou
na conquista da Província Cisplatina brasileira,
regressando a Portugal
gravemente ferido -, da
Guerra
Liberal,
combateu,
em Trás-os-Montes, as forcas miguelistas; feito
prisioneiro por duas vezes, em ambas conseguiu fugir juntando-se
às tropas do duque
da Terceira. Regressado do exílio em Inglaterra - onde se refugiara
na sequência da subida
de D. Miguel ao trono -, juntou-se,
na ilha Terceira, às forças leais a D. Pedro, tendo participado no
desembarque no Mindelo.
Brigadeiro e Governador da
Praça de Peniche em 1833, deputado
e barão
em 1836, alinhou contra os
cartistas, na Revolta dos Marechais,
ao lado do Conde do Bonfim. Marechal de Campo recolheu-se
a sua casa até à Revolta da Maria da Fonte, em 1846, altura em que
foi nomeado Governador de Trás-os-Montes.
Com
os Cabrais exilados em Espanha e a conspirar contra o novo Governo do
conciliador e nobre Duque de Palmela, a rainha D. Maria II,
despeitada - tivera que ceder às exigências dos revoltosos -,
temendo perder a
coroa, manobrava no sentido
do seu regresso, destituindo Palmela e nomeando - em segredo ,
o Duque de Saldanha para Ministro do Reino.
Tal
daria lugar à Guerra da Patuleia, que só terminaria em Junho de1847
com a Convenção de Gramido. Uma guerra sangrenta que se estendeu a
todo o país, devastando-o, em mortes e recursos.
Para
trás ficavam cerca de cinquenta anos de guerras sucessivas; a
Campanha do Rossilhão, - 1793
a 1795 -
em que tropas portuguesas, ao abrigo do Tratado de Amizade, combateu
ao lado da Espanha contra a França - a Espanha declarara guerra à
França, na sequência o guilhotinamento de Luís XVI -, a Guerra das
Laranjas – em 1801; a 1ª invasão napoleónica – em que Espanha
concertada com a França invade Portugal - custando-nos Olivença -,
a devastadora Guerra Peninsular - de 1807 a 1814 -, a Campanha de
Montevideu - de
1816 a 1823 - de que emergiria o Uruguai, onde os portugueses da
Europa e do Brasil foram heroicos e louvados pelos líderes locais, a
frustrante e, economicamente devastadora, independência do Brasil,
em 1822, as guerras liberais, de 1820 a 1834, a Revolta da Maria da
Fonte - em
1846 – e agora, a guerra da Patuleia.
Falhada
a invasão de Lisboa pelas forças dos
setembristas - tal como as
tropas de Massena,
esbarraram
nas Linhas de Torres , o
Conde das Antas regressara ao Porto, anunciando o heroísmo dos seus
soldados, apesar da derrota.
Em
sua perseguição, o marechal Saldanha, acabaria por ficar em
Oliveira de Azeméis preocupado com as guerrilhas miguelistas -
aliados daqueles,
que tinham recrudescido as suas ações.
Com
Lisboa determinada a liquidar a Junta do Porto, Casal, destacado para
o efeito, após treze dias de resistência da cidade às
movimentações das suas tropas, acabara por retirar sem disparar um
único tiro. De
regresso e contra sua vontade, o barão de Casal envolve-se, em
Braga, em luta com uma guerrilha miguelista comandada
pelo general Macdonnell.
Após
renhida luta
as
forças leais à rainha infligem
pesada derrota às milícias miguelistas, que sofrem grande número
de baixas, e tomam a cidade. Casal
não fez prisioneiros; disse
um contemporâneo:
“Casal
não queria bater-se mas a patuleia realista forçou-o ao combate.
Pelejou heroicamente, venceu e não deu quartel. Apenas perdeu uns
cinquenta homens, ficando dos realistas e povo inerme trezentos ou
mais sobre o campo de batalha.
Casal não fez um único prisioneiro. Passou tudo ao fio da espada.
Quem visitasse então aquela cidade veria cruzes pintadas nas
esquinas das ruas, alumiadas de noite e os fiéis rezando pelos
mártires da fé.”
Macdonnell,
que fugira a 26 de Dezembro de 1846 acabaria por morrer em Sabroso a
30 de Janeiro de 1847, facto determinante na aproximação dos
miguelistas à Junta do Porto.
Com
a anuência da rainha e sob
protestos da Junta,
que acreditava na vitória,
admite-se
a necessidade de intervenção estrangeira ao abrigo da Santa
Aliança, nos termos do Congresso de Viena realizado em 1815.
Um
esquadra inglesa, a
31 de Maio de 1847, bloqueou
e apreendeu
uma esquadra, com tropas e material de guerra, com que o conde das
Antas planeava reforçar as forças
da junta
estacionadas em Setúbal, a fim de tomarem
Lisboa.
A
19 de Junho entra em
Portugal,
por Mirandela, o tenente-general D. Manuel de La Concha com um
exército espanhol. Estabeleceu-se
em Bragança e
a
25 de Junho, deslocou-se
para as imediações do Porto, pronto a tomar a cidade. Outras
praças portuguesas, junto da fronteira foram ocupadas por forças
espanholas.
A
29 de Junho de 1847, realiza-se
a
Convenção de Gramido, onde
o
coronel Wylde,
apresentou
os termos do armistício, num
documento subscrito
pelo general Concha e pelo coronel Buenaga,
em representação de Espanha, pelo coronel De
Wylde
pela Grã-Bretanha, pelo marquês de Loulé e pelo general César de
Vasconcelos pela junta do Porto. As
tropas espanholas ocuparam a cidade e os fortes, enquanto aos
ingleses ocuparam
o Castelo da Foz.
Finalmente,
a 7 de Julho de 1847, entra na cidade do Porto o Marechal Saldanha
com as forças realistas.
O
regresso de Costa Cabral ao poder, dois anos depois, inviabilizou o
cumprimento integral da Convenção, motivando o golpe de Estado de
Saldanha, em 1851, a que se seguiu o ciclo da Regeneração e,
finalmente, a estabilidade política do país.
D. Maria II
Peniche,
4 de Agosto de 2024
António
Barreto