Publicado pela primeira vez em 1967, A Brusca, é um livro de contos em
que a autora retrata, em particular, um certo mundo rural, recorrendo em geral
a figuras ou circunstâncias pitorescas, por vezes caricatas, através de uma
linguagem fluida, rica, por vezes fascinante. Em “Uma Pescaria”, “O Bodo” e o “Correio
da noite” emerge com exuberância a espontaneidade, a imaginação e a abnegação
de um povo enquanto em “A Mãe de Um Rio” é reconhecível o realismo mágico de
Garcia Marquez. Foi, em especial, “Uma Pescaria” que me cativou com uma breve,
colorida e emotiva descrição da atividade piscatória na vila de Vieira de
Leiria, semelhante, afinal, à das povoações do litoral português, eloquentemente
descrita por Raul Brandão; “Dez a vinte vezes o barco era devolvido à praia; os
homens tentavam de novo, destemidos e inermes, com o terror sagrado nos
valentes corações.” e, “Remadores de grossos braços e veias pretas sob a pele,
moços de cabelos anelados pelo sal, as velhas de saiotes franjados na orla pelo
uso, olhavam-no friamente e interrompiam o trabalho quando ele chegava, fosse o
de remendar as redes, fosse o de pintar um olho de Argos na proa dum barco. Não
eram doidos nem sábios; não queriam corromper aquela estreita aliança com as
coisas do seu mundo, coisas a que deviam tudo o que eram, a raça de luto, o pão
da liberdade.” Sublime.
Peniche, 19 de Fevereiro de 2018
António Barreto (JR)
Sem comentários:
Enviar um comentário