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terça-feira, 25 de junho de 2019

Traições; antes e depois de Abril


   "No decurso da atividade da Comissão, tenho como muito impressivas as situações que decorriam do facto de alguns indivíduos presos pela polícia política, por integrarem forças da oposição à ditadura, terem passado a seus colaboradores. De facto, alguns elementos de grupos organizados como o PC ou outras forças, a determinada altura mediante coacção ou aliciamento passarem a colaborar com a PIDE. Esta é uma das razões essenciais que levam o PC a tentar controlar desde o primeiro dia a Comissão de Extinção, procurando prioritariamente identificar aqueles elementos que tinham traído o partido, mas também ocultar, de alguma forma, denúncias produzidas pelos seus militantes, presos ou não, algumas das quais no quadro de uma estratégia de luta partidária clandestina.
   Há casos em que se verifica um ciclo de "violência" continuada, porque há indivíduos que, sendo presos, são na prisão aliciados, passando de prisioneiros a colaboradores da polícia política, para logo após a Revolução se acharem de novo presos como informadores. Depois há as situações que estão ligadas ao tratamento prisional dos próprios agentes da PIDE. E aí houve exageros de toda a ordem."
 
Transcrito de: Capitão de Abril, Capitão de Novembro por; Coronel Sousa e Castro

Peniche, 25 de Junho de 2019
António Barreto*

sábado, 1 de junho de 2019

Portugal Traído; o 11 de Março (Fernando Pacheco Amorim)


   O 11 de Março
   (Síntese de António Barreto)
  
Frustrada a criação do Conselho da Revolução, a velha e bem oleada máquina do PC trata, de imediato, de alertar a opinião pública para as manifestações da reação que, garantiu, estariam prestes a ocorrer; uma inventona destinada a criar as condições para o afastamento dos oficiais não marxistas do MFA que os impediam de prosseguir com a sua agenda totalitária.

   Uma nova ameaça atemorizou o PC e os partidos autorizados, PS, PPD e CDS; o Partido da Democracia Cristã, fundado pelo major, membro do MFA e do II Governo Provisório, Sanches Osório, emergiu, polarizando as esperanças da população desiludida. Receosos e ardilosos, Cunhal e os seus correligionários logo desencadearam uma campanha de desacreditação e violência contra o novo partido, incluindo-o no rol dos seus alvos da intentona que preparava.

   Numa operação preparada pelo KGB para o PC, o traidor Vasco Gonçalves entrega a Palma Inácio, da Luar, e a Otelo, do Copcon, duas listas com nomes de civis e militares a abater; Inácio assassinaria os que estavam detidos, Otelo, assassinaria os outros.

   Cópias daqueles documentos chegaram às mãos do General Spínola e de membros do MFA. A data da matança, que ficou conhecida como “Matança da Páscoa” seria anunciada através da passagem de uma peça de teatro na TV. A exibição na TV, dessa canalha ao serviço do comunismo, de uma peça de teatro com características semelhantes provocou a debandada dos oficiais spinolistas procurando salvar as próprias vidas.

   A 11 de Setembro dá-se a farsa do bombardeamento do RAL1, vazio. O “povo vigilante” ao serviço do PC aguardava nas proximidades o desenrolar da ópera bufa, e a canalha da TV, igualmente avisada, registava a ocorrência da mesma. Um soldado, não avisado, é atingido e morre. Logo foi transformado no novo mártir, qual Catarina Eufémia. Porém, o assassinato a sangue frio, pelas costas, a rajada de metralhadora, por gente do RAL 1, de um casal sumariamente julgado por motivo fútil, nem sequer foi noticiado no país.

   Com a TV a entreter o povo com a reportagem das investidas da “contrarrevolução”, o PC não perdeu tempo. Chegara a hora de fazer a última purga do MFA e de constituir o ansiado Conselho Superior da Revolução. Convocada à pressa, a Assembleia Geral do Movimento das Forças Armadas, já depurada dos oficiais anticomunistas, arregimenta faxinas, sentinelas e até civis, para conseguir o quorom estipulado de 200 elementos. O famigerado e tristemente célebre Conselho da Revolução foi, finalmente, constituído como poder supremo do país. O grande propósito comunista estava alcançado. Da histórica Assembleia não foi elaborada ata, dada a irregularidade dos participantes. De imediato foram nacionalizadas a banca e numerosas empresas. Foi a consagração de décadas de luta do PC ao serviço do imperialismo soviético.

   PS, PPD e CDS, atemorizados e indignos, renunciam aos seus princípios, colaborando na encenação pública comunista. Sucedem-se as manifestações das brigadas vermelhas - tal como hoje, aliás -, pagas a xis por cabeça, fazendo-se passar pelo povo anónimo e atónito. Na frente externa, cantam-se loas à “Revolução dos Cravos”. No Mundo Ocidental cada país restringe-se à defesa dos seus próprios interesses, esquecendo os princípios do Mundo Livre, que diz defender.

   À época, o Conselho da Europa votou a favor da entrada de Portugal na sua organização, apesar das divergências insanáveis do respetivo regime com os estatutos da mesma. Sinteticamente, Portugal encontrava-se numa estado político pré-comunista e não pré-democrática, como muitos quiseram fazer crer. Senão, vejamos:

    As eleições para a Constituinte, realizadas em 25 de Abril de 1975, foram condicionadas pelo MFA, que afastou vários partidos do processo e impôs aos restantes uma Convenção Constitucional onde ficou definida a estrutura do novo regime, elaborada, nas suas linhas mestras, pelo PC. A Assembleia limitou-se a ratificar o que foi imposto aos partidos pelo MFA e estes, anuíram ao papel de idiotas úteis, emprestando uma aparência de pluralismo à Assembleia. O processo democrático ficou, assim, ferido de morte; pela falta de pluralismo partidário, por se ter enganado aos cidadãos e pela total ausência de liberdade na elaboração da lei fundamental.

   Neste contexto, o modelo que vigorou é característico das democracias populares e não aos regimes das democracias ocidentais, como se pretendeu fazer crer. Assim, por ordem decrescente de importância, os órgãos de soberania foram: O Presidente da República, o Conselho da Revolução, a Assembleia do Movimento das Forças Armadas, a Assembleia Legislativa, o Governo e os Tribunais.

    O Presidente da República era eleito por um Colégio Eleitoral composto por 490 membros, dos quais 240 pertenciam ao MFA e correspondiam ao Conselho da Revolução e à Assembleia do MFA. Daqui resultava que o PR seria sempre um militar da confiança do MFA, ao qual cabia escolher o Primeiro-ministro. (que bela democracia)

   O Conselho da Revolução concentrava todos os poderes, grosso modo, supervisionando e limitando a ação dos restantes órgãos e detendo ainda poderes especiais; definia a sua própria constituição, fixava o programa político interno e externo, decidia da constitucionalidade material e orgânica das leis, validava e sancionava todas as leis emanadas da Assembleia do MFA e do Governo, substituía a Assembleia e o Governo em matéria militar, sempre que se justificasse, zelava pelo cumprimento das leis ordinárias e pelos atos do Governo ou da Administração, conferia poderes constituintes à Assembleia Legislativa e recomendava correções ou alterações à Constituição, deliberava quanto ao Estado de Sítio ou Estado de Emergência, colaborava na escolha do Primeiro-ministro e dos três ministros nomeados pelo MFA, decretava a dissolução da Assembleia Legislativa, nomeava o substituto do PR em caso de impedimento do PR em exercício.

   Além disto, a Convenção imposta aos partidos determinava que a Constituição devia consagrar os princípios do MFA e salvaguardar as conquistas obtidas pelo processo revolucionário, bem como as futuras disposições que viesse a adotar.

   No dia-a-dia praticam-se atentados sistemáticos à vida, aos bens e às liberdades fundamentais dos cidadãos, numa frontal violação do Estatuto do Conselho da Europa, da Convenção para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, bem como os princípios gerais que regem as sociedades Ocidentais. O Estado de Direito prometido pelo MFA aos portugueses, não foi cumprido. Em seu lugar, permitiram-se leis revolucionárias, tribunais revolucionários, brigadas revolucionárias que agridem e matam impunemente.   

   Apesar da oposição de todos os partidos, à exceção do PCP e do MDP/CDE, foi consagrado, arbitrariamente, o princípio da unidade sindical, sem consulta aos trabalhadores, violando o direito de liberdade de associação sindical conforme disposto na Carta Social Europeia (Turim, 18 de Outubro de 1961).    

   Igualmente violado foi o direito de Associação política, como se verificou com a dissolução da Associação dos Operários e a proibição da Democracia Cristã de concorrer a eleições, com base em acusações não provadas, tal como ocorreu em 74 com o Partido do Progresso e o Partido Liberal.

   O mesmo sucedeu com a liberdade de informação; excetuando a “República” - órgão do PS - todos os restantes meios de comunicação estiveram sujeitos à censura dos comités de redação do PC. Antes da nacionalização da banca, MFA e governo provisório ocuparam as instalações dos hebdomadários independentes - “Tribuna Popular”, “Bandarra”, “Tempo Novo” e

“Liberdade” -, exceto as do Expresso, encarcerando vários jornalistas, em clara violação da Convenção para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais.

   A rádio e a televisão não tiveram melhor sorte; com o pretexto de terem colaborado no 11 de Março, Emissora Nacional, Rádio Renascença e RTP, que praticavam algum pluralismo, foram também submetidos ao jugo do PC através do MFA e Governo Provisório.

   Sobrepovoaram-se as prisões; os detidos - cerca de cinco mil - sem nota de culpa, sem interrogatório, sem apoio judicial, amontoam-se no Forte de Caxias, na prisão da Trafaria, na Fortaleza de Peniche, na Penitenciária de Lisboa, no Aljube, nas prisões civis e militares do Porto, no campo de concentração de Alcoentre, na prisão de Tires, na Fortaleza de Elvas, etc. Foram cerca de cinco mil detidos - sem quaisquer ligações ao antigo regime. O propósito foi o de desencorajar, pelo medo, os cidadãos, de quaisquer veleidades de discordância com o novo regime.

   Logo a seguir ao 25 de Abril, a KGB monta uma polícia política em Portugal, constituída pelo CPCON, pela LUAR e pela Comissão de Extinção da PIDE DGS. Fernando Oneto, membro da Comissão de Extinção da PIDE-DGS e do Partido Socialista, testemunhou estes factos. (morreu, anos depois, num comboio para Espanha, de súbito colapso cardíaco, tendo havido quem suspeitasse de assassinato, devido às circunstâncias em que ocorreu).

   Foi este o resultado de um ano de ditadura imposta por um bando de militares que prometeu ao Povo e ao mundo uma democracia pluralista em Portugal. As vítimas destas arbitrariedades, prisioneiros ou refugiados, são testemunhos eloquentes do caos instalado, que não se deveu só a Moscovo, mas também ao criminoso imobilismo das democracias ocidentais.

   Ao sancionar os crimes praticados no após 25 de Abril com a decisão de aceitar a inclusão de Portugal, controlado pela União Soviética, na sua organização, o Conselho da Europa, descredibilizou-se.

   (O acerto de contas ocorreria em 25 de Novembro de 1975. Por tudo isto custa compreender a recusa, em Portugal, da comemoração do 25 de Novembro. Tal permite-nos concluir que, os agentes desta recusa, os partidos de esquerda PS, PCP e BE, rejeitam o regime democrático instituído em Portugal na sequência do 25 de Novembro de 1975. Se tal atitude, por parte do PCP e do BE, é compreensível - uma vez que representam as forças derrotadas no evento militar subjacente - já não se compreende no caso do PS, partido que desde a primeira hora esteve do lado das forças democráticas. Porém, este caso, pode ser interpretado pelo interesse estratégico deste partido em manter-se vinculado a um período em que os excessos do PC e a intolerância do MFA aos partidos não socialistas, constituíram os motores da sua ascensão política.)
Quadro: Batalha de São Mamede
Peniche, 1o de Maio de 2019
António Barreto