Henri Matisse - Trois Odalisques, 1928-29.
O movimento das enclosores intensifica-se no século XVIII pela ação do Parlamento,
em especial a partir de 1760, deixando desamparados os squaters e os pequenos camponeses, relegando-os à miséria e a
reserva de mão de obra, decisiva para o desenvolvimento das atividades mineira
e manufatureira. Com a propriedade da terra concentrada na aristocracia e
grandes proprietários rurais e sob a liderança de Lord Twonshend inicia-se a
modernização da agricultura - com secagem de pântanos, novos métodos de
cultivo, adoção de charruas de ferro e rotação de culturas - e da criação de
gado - cruzamento e seleção de raças.
A escassez de madeira e os baixos custos
do transporte, propiciam a expansão da produção de carvão de coque - hulha branca
e negra - dos 2,5 milhões de toneladas até aos 10 milhões, em todo o século
XVIII; dois terços da produção europeia. Hulha branca e negra sucedem à energia
hídrica. Expande-se o salariado, exceto na Escócia, onde os operários, na mina
ou na salina, têm o estatuto de servos, usando coleiras com o nome do proprietário
gravado.
Um turbilhão de sucessivas inovações tecnológicas
percorreu todo o século XVIII, alterando os métodos de produção manufatureira.
As máquinas de fiar e de tecer tornaram-se mais eficientes, desenvolvem-se
novos métodos de tratamento de tecidos, como o branqueamento e a tinturaria, aperfeiçoou-se
a fundição do ferro e do aço, criaram-se novas ferramentas e utensílios
domésticos, fabricam-se carris de ferro potenciando a exploração das minas e permitindo
o desenvolvimento do caminhos de ferro, a construção de pontes e barcos, inventou-se
a máquina a vapor de simples efeito adotando-a para acionamento das bombas de
esgoto nas minas, das máquinas de fiar e tecer e das carruagens usadas nos
caminhos de ferro. Desenvolvem-se as indústrias da produção de papel, oficinas
de serração e de trabalhos em madeira, altos fornos e fundições. Da produção
dispersa em que o mercador-fabricante distribuía as matérias- primas aos
camponeses artesãos e a fabricantes intermédios - que as redistribuíam à sua
rede de artesãos -, passou-se à produção em fábrica, onde, ao contrário dos
artesãos independentes, os operários - maioritariamente crianças a cargo das paróquias
-, mas também mulheres, ex-camponeses desenraizados e indigentes - são agora
operários sujeitos a uma disciplina rígida de produção. As revoltas sociais
sucedem-se, primeiro dos artesãos, entre o desemprego e a perda de autonomia, depois
dos operários sujeitos a violentas condições de trabalho.
Na transição da produção para o
capitalismo em Inglaterra, o Estado adota o mercantilismo - com medidas protecionistas,
atribuindo privilégios e monopólios -, apoia politicamente e militarmente a
expansão comercial e colonial, controlando os pobres, proibindo alianças operárias
e reprimindo violentamente as suas revoltas - condenando à pena de morte os
autores da destruição de máquinas ou edifícios.
No centro das múltiplas e heterogéneas transformações
que constituíram, a, posteriormente designada Revolução Industrial, define-se a
nova burguesia, constituída por aristocratas, envolvidos no comércio, na agricultura
ou na exploração mineira, grandes mercadores ou financeiros, adquirindo terras,
mercadores construindo fábricas, fabricantes e negociantes, transformando-se em
banqueiros, homens de leis, notáveis locais, rendeiros abastados, clérigos e
académicos. Detentores exclusivos do direito de voto, os novos burgueses -
quatrocentos e cinquenta mil - impõem os seus interesses ao Parlamento
conduzindo a política britânica à defesa do seu comércio.
(Síntese livre de História do Capitalismo de Michele Beaud)