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terça-feira, 10 de julho de 2018

Da História de Portugal, notas XI


Da Lusitânia a Portugal
De Diogo Freitas do Amaral
Bertrand Editora
Notas XI (sobre a obra)
A conquista de Ceuta

   Em 1415, França e Inglaterra travavam, na plenitude, a célebre Guerra dos Cem Anos - de 1346 a 1453. Espanha continuava a sua luta contra os muçulmanos pela posse dos territórios a sul, o que viria a ocorrer em 1492. Na Igreja Católica vivia-se ainda o Grande Cisma do Ocidente - de 1378 a 1417. A devastação da Peste Negra, que atingira o auge entre 1346 e 1353, traduzira-se numa profunda recessão demográfica e económica em toda a Europa. O ciclo do ótimo climático medieval estava no seu termo, agravando a crise agrícola. Com as fronteiras definidas no limite da expansão territorial desde 1279 e a paz consolidada com Castela, Portugal antecipou-se, ao dar o primeiro passo da sua epopeia marítima, a qual viria a conduzir a Europa a um ciclo de progresso económico político e social sem precedentes que culminaria no século XIX, com a Revolução Industrial.

   Especula-se ainda quanto às causas do avanço de Portugal para a tomada de Ceuta: antes de mais, como se viu antes, já D. Dinis tinha ideias bem definidas quanto à necessidade da exploração marítima, que seria uma inevitabilidade resultante da estabilidade territorial continental e das carências económicas e demográficas do país. A expansão do cristianismo terá sido, sem dúvida alguma, outra das motivações da Coroa lusa, dado o compromisso desta com o papado ao qual devia a legitimação, e os graves ataques de que o cristianismo era alvo a oriente por parte do islamismo turco, que viria a derrubar o Império Romano do Oriente em 1453 com a tomada de Constantinopla. O “pão de mar” teria sido outra das razões, decorrente da grave crise de produção de cereais pelas razões já referidas. Ainda outra, terá sido a necessidade de dar combate à pirataria islâmica que fustigava as cidades mediterrânicas, incluindo as do Algarve. Finalmente, a carência de novas benesses régias e do saque militar terá mobilizado a aristocracia, criando um ambiente propício a novos feitos guerreiros.

   Os infantes D. Duarte, D. Pedro e D. Dinis, foram mandatados para arregimentar homens e armas nas regiões de Lisboa, Porto e Coimbra. Enviaram-se emissários às coroas de Castela, Inglaterra e Flandres com a finalidade de clarificar os propósitos da iniciativa, ficando por esclarecer a omissão relativamente a França, eventualmente relacionada com o seu apoio ao antipapa Clemente VI, radicado em Avignon. Para Ceuta, via Sicília, partiram dois nobres em missão de espionagem, com o propósito de recolha de informação necessária à elaboração do plano militar.

  Na Capital vivia-se em euforia a espetativa da nova aventura. D. Filipa de Lencastre, antes de falecer, em 18 de Julho de 1415, incentivara os três filhos mais velhos, presenteando cada um deles com uma espada e com os seus conselhos de vida. A 7 de Agosto, com o país em luto, 210 a 240 navios e cerca de 19 mil homens, partiram de Lagos, rumo a Ceuta via Algeciras.

    Os combates, iniciados a 21 de Agosto, sob a liderança do jovem D. Henrique, grande entusiasta da expedição, terminaram no dia seguinte. Transformou-se a mesquita local na igreja de Santa Maria, onde El Rei D. João I, armou Cavaleiros D. Pedro e D. Henrique - grau já atribuído, por inerência, a D. Duarte, herdeiro ao trono após o falecimento de seu irmão Afonso, o primogénito (a Infanta D. Branca, falecera no ano anterior ao nascimento de D. Duarte) - Em Tavira, foram nomeados os primeiros duques História de Portugal; de Coimbra, D. Pedro e de Viseu. Apesar de D. Henrique, ter sido designado, por seu pai, para Governador Geral de Ceuta, foi a D. Pedro de Meneses com uma guarnição de 40 oficiais e 2500 soldados, que coube a guarda da cidade.

   Os benefícios económicos da tomada de Ceuta limitaram-se aos do saque inicial e à contenção dos atos de pirataria no mediterrâneo, tendo-se transformado, rapidamente, num sorvedouro de recursos do país. A Monarquia saiu prestigiada, em especial, junto do Papa e dos principados cristãos.

   É curioso, que, o autor, atribua a este episódio uma das causas dos 165 anos seguintes de paz com Castela! Não consegui perceber bem porquê! Talvez tenha funcionado no plano da dissuasão; afinal, o desastre castelhano de Aljubarrota ocorrera apenas trinta anos antes.

   Ceuta permaneceu sob domínio Português durante 254 anos, até que, no Tratado de Badajoz realizado em 1668, foi acordada a transferência para a soberania Castelhana.

  Foi ainda neste reinado que Portugal, descobriu Porto Santo, em 1419, a Madeira, em 1420 e, se realizaram várias expedições às Canárias.

   De forma algo difusa, imprecisa, caracterizou, o autor, a atividade do Infante D. Pedro, o “das sete partidas”, atribuindo-lhe um longo périplo pela Europa, em missão diplomática, mas também de atualização em matérias de governação, de correntes de pensamento, de conhecimento geográfico, etc., suspeitando que teria sido ele a trazer, de Veneza, o célebre “Livro de Marco Polo”. Recebeu de Segismundo da Hungria o feudo de Treviso e foi investido cavaleiro da Ordem da Jarreteira, por, seu tio, Henrique IV de Inglaterra. É possível, digo eu, que o acervo de informação que D. Pedro recolheu até regressar a Portugal, em 1428, tenha sido decisivo para o projeto da expansão marítima lusa.
 
 
D Filipa de Lencastre - Padrão dos Descobrimentos

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