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terça-feira, 27 de março de 2018

Pseudo-revoluções

   "Refira-se que o objetivo não é simplesmente destruir a ditadura em funções, mas sim instituir um sistema democrático. Uma grande estratégia que circunscreva o objetivo à mera destruição da ditadura instalada corre o sério risco de permitir o aparecimento de outro tirano."
 
(Gene Sharp em Da Ditadura à Democracia)
 
 
     
 
Chegada de Álvaro Cunhal no 25 de Abril; uma réplica da vitória bolchevique

   Pois foi exatamente o que aconteceu com o 25 de Abril em 1974; os "garbosos" capitães não tinham qualquer ideia do que fazer no day after, proporcionando a liderança posterior do processo ao único partido com capacidade para tal; o PCP. Fundado em 1921, financiado pela União Soviética, o Partido Comunista Português tinha, em 1974, uma estrutura hierárquica e operacional consolida, com trabalho subversivo profundamente disseminado nas forças armadas, quer ao nível dos oficiais subalternos, em especial os milicianos - doutrinados nas universidades pelos membros das células comunistas -, quer do oficialato superior, como veio a verificar-se posteriormente, com os casos de Vasco Gonçalves, Rosa Coutinho, Vitor Crespo e outros. Percebi, não há muito tempo, a causa da "superioridade moral" que os comunistas lusos habitualmente ostentam.  E têm razão; tiveram um papel decisivo para a génese e o sucesso do golpe militar, quer na sociedade civil quer nas Forças Armadas. Os capitães nem perceberam que estavam a fazer o célebre papel de "idiotas úteis".
 
   A guerra civil esteve por um fio. A ala democrática do MFA apoiada por um punhado de patriotas - entre os quais Ramalho Eanes e Jaime Neves e os Partidos democráticos, com destaque para o PS -, associada à hesitação de Otelo e Álvaro Cunhal, à desmobilização dos paraquedistas e de Salgueiro Maia - um democrata posteriormente, ostracizado -, e à liderança, algo surpreendente, de Costa Gomes - inviabilizou a deriva totalitária comunista, culminando nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975, nas quais, o Partido Socialista emergiria como grande vencedor, subalternizando, politicamente o PCP. Apesar disso o país ficou socialmente dividido até hoje, refletindo-se num ziguezaguear permanente da ação governativa com enormes custos económicos que o têm mantido, quase permanentemente, na fronteira da indigência financeira. Com o funcionalismo público a fazer o papel atribuído pelo marxismo ao proletariado, a Sociedade Civil, destituída da capacidade de escolher os seus representantes parlamentares, paradoxalmente, num regime que se pretendia garante da liberdade, da igualdade de oportunidades e da dignidade, acaba submetida a uma feroz repressão fiscal e a uma degradação crescente dos serviços públicos básicos, como a saúde, a educação e a segurança.
 
   Em quarenta e três anos de vida democrática é notória a perda de qualidade do regime, impondo-se um patriótico debate no sentido de corrigir a sua característica eminentemente governamentalista, restabelecendo a eficácia dos indispensáveis contrapesos e a efetiva representação dos cidadãos.
 
Peniche, 27 de Março de 2018
António J.. R. Barreto

 

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