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sábado, 13 de agosto de 2016

Do Capitalismo (IV)



Vincent Van Gogh
Designado pelo século das luzes, do despotismo esclarecido ou do espírito francês, o século XVIII sobretudo na segunda metade, caracterizou-se pela expansão do comércio mundial e das produções agrícola e manufatureira, acompanhada pelo aumento dos preços e crescimento populacional - cerca de 60 % na europa; de 120 milhões para 190 milhões -, proporcionando a multiplicação da riqueza e, num fenómeno histórico recorrente, o agravamento da pobreza.

Este é o século da ascensão e afirmação do domínio mundial do capitalismo inglês, colonial, mercantil e manufatureiro, contra os capitalismos holandês, espanhol, francês, ainda marcadamente rural, o prussiano, atávico e despótico, onde de uma nova vaga de enclosures intensificou a proletarização das massas rurais, e onde o progresso tecnológico e a acumulação, criaram as condições para a grande Revolução Industrial do Século XVIX. É o século das revoluções americana - 1776/1772 - e francesa - 1791/1795 – que abririam caminho à insurreição e independência, no século seguinte, de várias colónias da américa latina; Argentina – 1818 -, Colombia – 1819 -, Perú, México e Venezuela – 1821, Brasil – 1822.

Graças ao poder da sua frota naval, que ameaçava a segurança das rotas marítimas dos seus concorrentes, a Inglaterra expandiu o seu comércio e o seu império através dos tratados de Metueen - 1703 -, de Utrech - 1713 - e de Paris - 1763 -, que lhe garantiram acesso comercial às colónias de Portugal, Espanha e França. Determinados a travar a expansão francesa, na sequência da guerra da Sucessão da Áustria, mas, sobretudo no decurso da Guerra dos Seta Anos, a Inglaterra ocupa e integra nos seus domínios várias colónias Francesas e também espanholas a partir das quais procede à anexação de vastos territórios. Todo o Canadá, a Louisiana, a Georgia e várias ilhas das Antilhas, mas também várias colónias em África e na Ásia passaram a integrar o império britânico em detrimento de França e Espanha.

Na América latina os países colonizadores duplicam a extração e, ou, pilhagem do ouro - 20 toneladas por ano contra 10 toneladas por ano no século anterior -, nas Antilhas e no Brasil, com recurso ao trabalho escravo, aqueles, dedicam-se à rentável produção de açúcar enquanto se assiste ao incremento do tráfico de escravos - média de cinquenta e cinco mil por ano no século, contra cerca de dois mil por ano no século anterior, em média (segundo M. Goulart, entre 1500 e 1851 - entraram no Brasil cerca de 3,5 milhões de escravos, e entre 1680 e 1786, cerca de 2,1 milhões nas colónias Britânicas da América. Curioso como, entre os armadores, já se faziam sentir as modernas ideias francesas, chegando mesmo, um deles, a batizar os seus navios de Voltaire, Rosseau, O Contrato Social. Foi nesta matriz económica que se verificou o enriquecimento burguês europeu nos séculos XVI, XVII e XVIII.

Às suas colónias, a Inglaterra definiu os parâmetros de relacionamento - que caracterizaram o colonialismo em geral - a título de gratidão pelo desenvolvimento proporcionado - tese ainda hoje defendida por alguns historiadores -, impondo a subordinação dos interesses daquelas aos seus, consistindo na reserva dos mercados coloniais aos produtos da metrópole, na preferência pelos artesãos e marinheiros desta e na primazia da mesma no fornecimento de produtos, especialmente matérias-primas, de que carecesse.

Na América do Norte emerge uma economia eminentemente agrícola e esclavagista a sul e, a norte, uma economia moderna, combinando a agricultura, a manufatura e o comércio, com participação no comércio triangular. Ultrapassados os obstáculos francês e espanhol à expansão para ocidente, os colonos americanos travam uma guerrilha permanente contra os índios – chegando a oferecer prémios por cabeça - de que é exemplo a guerra contra os Cherokees entre 1759 e 1761.

Na sequência de vários desentendimentos de natureza tributária com a metrópole, em 04 de Julho de 1976, um congresso de treze colónias americanas adota a célebre Declaração de Independência, largamente influenciada pelos filósofos europeus, donde se destaca o princípio da igualdade dos homens pelo nascimento, o seu inalienável direito à Liberdade e à procura da felicidade, a obrigação dos governos, consentidos pelos governados, os garantirem e ainda o direito destes os mudarem ou abolirem, sempre que ponham em causa tais direitos.

Nos seis anos de duração da guerra da independência, a que o Tratado de Versailles pôs termo, os americanos beneficiaram do apoio da França - 1778 -, da Espanha - 1779 - e da Holanda – 1780, potências interessados no enfraquecimento do seu rival, ajudando à indGravelinesependência das suas antigas colónias.

Assim, o capitalismo do século XVIII é nacional e global, caracterizado por sucessivas guerras entre rivais e pela extorsão das riquezas dos domínios coloniais, que suscitou a reação dos povos dominados culminando com a independência da América - primeira descolonização -, e vários movimentos independentistas fracassados.

PS1; Será que os americanos, defensores da autodeterminação dos povos, principais responsáveis na viragem da política da ONU relativamente à política colonial portuguesa, consideravam os índios pessoas com direito à liberdade e felicidade que preconizavam para si próprios? E como se integram eles, hoje na sociedade americana? Sentir-se-ão livres e felizes nas reservas que lhes atribuíram? Considerarão todas as pessoas dignas desses direitos?

PS2; A ascensão da Inglaterra como maior potência colonial deve-se acima de tudo à supremacia naval obtida na sequência da vitória sobre a Armada Invencível, na célebre batalha naval de  Gravelines travada em 1588, devido a uma séria de circunstâncias aleatórias na sequência de uma má decisão do rei Filipe IV de Espanha. Um exemplo de como um erro de avaliação pode mudar o curso da história.

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