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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Valores cistãos


Paolo Varonese, Deposição de Cristo
 
"Dedicar-lhe esta conquista e agradecer-lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome”."
 

   Estas são as últimas frases do texto que Fernando Santos fez questão de ler antes de iniciar a conferência de imprensa no rescaldo da conquista do título europeu. É comovente esta franqueza e humildade de um homem que sabíamos cristão mas de quem não suspeitávamos tal audácia. Não num tempo cada vez mais amoral, onde se cultiva um egotismo cada vez mais exacerbado, se enaltecem todas as bizarrias sociais e onde os valores cristãos são vistos pela "doutrina" dominante como um dos grandes obstáculos à emancipação das sociedades humanas.
 
   Sem que me tenham encomendado o sermão nem seja detentor de qualquer outro tipo de habilitação além da que habita o cidadão comum que se questiona, parece-me oportuno sublinhar algumas dos valores difundidos por Jesus Cristo no seu breve consulado.
 
  Desde logo o amor ao próximo, o da universalidade e o do perdão. Estas são as três características que permitem a emancipação do Homem da barbárie à qual sempre retorna quando delas se esquece. "Não faças a outro o que não queres que te façam a ti". É esta, afinal, a "grande" revolução cultural de que carecemos; orientação da nossa postura no respeito pelos outros. Paradoxalmente, muitas vezes confunde-se cultura com quantidade de conhecimentos, erudição, e esta, frequentemente, conduz ao desrespeito do outro, resultado da ascensão social e económica que geralmente proporciona a quem a detém.
 
   A universalidade, maravilhosamente contida nas parábolas em que Cristo recusou negar graças aos pedidos dos Blasfemos - os céticos - e dos ímpios - os estranhos à tribo -, com fé, rompeu com a tradição judaica da restrição religiosa ao grupo ou seita, abrindo os espíritos ao diferente e ao reconhecimento da natureza espiritual comum, condição essencial à aproximação cultural dos povos e dos homens.
 
   A qualidade cristã que mais me fascina, porém, é a capacidade que proporciona de resgate do homem da barbárie, permitindo-lhe a recuperação da inocência pelo arrependimento sincero, o que implica a interiorização e prática tendencial de valores referenciais, assim permitindo obstruir o desenvolvimento da espiral do mal sempre latente em cada um de nós.
 
   O sublime gesto de amor que foi a crucificação, visa pôr fim à tradição judaica do sacrifício e sentimento de culpa de cada um como forma de expiação dos seus "pecados", substituindo-o pelo sacrifício maior de Jesus Cristo em nome de todos.
 
   O que o catolicismo fez depois é outra coisa; muitas vezes, execrável, miserável, indigno de Jesus Cristo.
 
   Claro que, se Fernando Santos não tivesse ganho, continuaria a ser um homem de Fé, humildemente a agradecer a Deus por mais um dia, apesar da vitória do adversário, que felicitaria sem rancor. Tudo estaria igualmente bem; afinal, como não aceitar a felicidade do outro?
   Fernando Santos, além de competente, é um homem bom. Um exemplo. 

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